sexta-feira, 20 de maio de 2011

Song's*2


Coreografia da Mariza


Momento de Inês ao ler a sms.

Roupas utilizadas para o 2º Capítulo

                                                               Roupa utilizada por Mariza
                                      Roupa utilizada por Inês (top branco, jeans e uns vans azuis)

quinta-feira, 19 de maio de 2011

2º CAPÍTULO - narrado por Inês Oliveira

Quando chegámos a casa:
         - Queres subir até minha casa loirinha?
         - Fazer?! – Perguntei eu.
         - Quero-te mostrar os meus novos passos de dança – dizia Mariza lançando-me uma piscadela.
         - Então vamos lá. Fiquei curiosíssima.
Subimos as escadas. Já em casa da Mariza:
         - Olá meninas, como correu o 1º dia de aulas? Espero que estejam com fome, acabei de fazer um bolo. – Diz a mãe de Mariza vindo da cozinha ainda com farinha no avental.
         - Olá Sr.ª Martinez - respondi eu – Correu bem, muito obrigada. (eu adorava a mãe da Mariza, era como uma 2ª mãe para mim, já que por causa dos estudos eu estava longe da minha, a Sr.ª Martinez trava-me muito bem e eu era sempre bem recebida lá em casa).
         - Sim, foi normal, Vamos? – Dizia a Mariza já a puxar-me pelo um braço.
(No quarto da Mariza)
Sentei-me na sua cama, como já era hábito, enquanto ela colocava o CD e se preparava.
         - E 1, 2, 3… Agora, nesta parte entrava o Ricky, e 4, 5, 6, …

(Eu adorava vê-la dançar, a maneira como ela executava cada movimento, parecia mágico, dei por mim, já estava novamente perdida, no meu lugar mais habitual, o mundo da lua, eu devia ser a rapariga mais sonhadora de todo o universo, pois passava a vida nisso).

         - Inês, INÊS, LOIRINHA! – Gritava a Mariza.
         - Hã? Sim, diz.
         - Então Chica, onde estavas? Que achas-te da coreografia?
         - Ai, desculpa, desculpa a sério, perdi-a a meio, desculpa.
         - Hó não faz mal. Mas passa-se alguma coisa? Nem pareces tu, tirando a parte de tares distraída, mas não dessa maneira.
         - Sim estou bem, na verdade não estou assim tão bem, quer dizer também não estou mal, estou com uma ENORME dúvida.
Mariza puxa uma cadeira e senta-se há frente de Inês.
         - Conta loirinha.
         - É que há uma coisa que não consigo tirar da cabeça desde hoje de manhã. Lembras-te de quando o miúdo loiro, o Rodrigo, nos mandou com o balde de tinta?!
         - É claro que me lembro, como poderia esquecer, o miúdo agora não descola, mas que tem ele?
         - Ahah, pois, não é bem ele, sabes aquele miúdo que depois nos ajudou a levantar? Pronto é isso. Eu não consigo imaginar o porquê dele nos ajudar, porque não fez ele uma “rodinha” como os outros e não se habilitou a troçar como os outros, não dá, não consigo compreender, é que o rapaz nem nos conhecia de lado nenhum!
         - Pois, realmente é verdade, mas sabes que nem toda a gente é igual, ele podia estar só a ser simpático, mas porque não tentas falar com ele amanhã de manhã para tentares perceber porque é que ele fez o que fez? Faz isso, amanhã vai falar com ele.
         - E é mesmo isso que vou fazer, obrigada Espanholita. Vá agora tenho de ir, ainda tenho de preparar as coisas para amanhã e tomar um duche para ver se esta tinta vermelha me sai do cabelo.
         - Ok Chica, beijinhos, e vê-la se amanhã não te atrasas outra vez.
(A Mariza acompanhou-me até há porta, despedindo-se)
         - Dá beijinhos á tua mãe, e diz-lhe que o bolo fica para a próxima. Até amanhã. – Dizia eu.

Subi as escadas até ao andar de cima e estava eu já diante da porta, preparada para a abrir, já ouvia do outro lado o miar do pequeno González, que tinha pressentido o tilintar do meu porta-chaves.
Entrei, pousei a mala e os livros na cozinha, fui direita há casa de banho e pus a água da banheira a correr. Enquanto a banheira enchia, fui novamente há cozinha encher as taças de comida/água do González. Voltei novamente para a casa de banho, instalei-me na banheira e por ali fiquei uns bons minutos. Não consegui tirar da minha cabeça o que tinha acontecido naquela manhã. Porque raio havia o rapaz de nos ajudar sem ter segundas intenções e sem nos conhecer de lado nenhum? A serio, juro que não via uma única razão possível para tal acontecimento, mas teria de esperar até há manhã seguinte, para obter uma resposta.


- Buenos dias mama! Adiós, tenho de ir. – Diz a Mariza enquanto colocava a mala ao ombro e dava um beijo há sua mãe.

- Esperaaaaaaaaa! – Gritava eu enquanto descia os últimos degraus para apanhar a Mariza. – Bom dia Espanholita.
- Bom dia Loirinha, então, sempre conseguiste tirar a tinta toda do cabelo?
- Sim, e estava a ver que não, tive de o lavar para aí umas 3x! Se eu apanho aquele otário nem sei o que lhe faço!
- Deixa, dele já eu tratei, e agora não descola, é pior que o winnie the pooh e o seu frasco de mel! E tu? Sempre vais falar com o tal rapaz hoje?
- Claro, assim que o vir, quero explicações! Vamos?!
- Siga!

(já na escola, toca)
- Mesmo a horas em Loirinha!
- Podes crer, e agora já não vou falar com o miúdo, falo no próximo intervalo. Até já Mariza, boas aulas.
- Obrigada Loirinha e para ti também.

(seguiu cada uma o seu caminho)

Entrei na sala de Biologia e nem queria acreditar quem estava ali sentado mesmo há minha frente! O miúdo que nos tinha ajudado no dia anterior. Era a altura perfeita para falar com ele.
- Olá, desculpa, mas desde ontem que estou para te fazer esta pergunta porque é que . . .
- Bom dia meninos! Podem sentar-se – Dizia o professor enquanto entrava na sala.
(puxei uma cadeira e sentei-me na carteira ao lado da dele)
- O que é estavas a dizer?! – Perguntou-me o rapaz.
- Nada, no final falamos pode ser? – Sussurrei.
- Bem quero apresentar-me. Sou o Prof. Carlos, e hoje vamos formar pares para um trabalho de grupo que será para entregar daqui a uma semana. Vou escrever os vossos nomes nestes papéis e vou colocá-los neste saquinho para formar os pares, vamos lá então: Tiago – Jenny; Mafalda – João; Inês – Mauro, . . .
- Mas quem é esse tal de Mauro? – Resmungava eu, já a pensar que era um calão, que não iria fazer nada, e estava-se mesmo a ver que era eu que ia ter que fazer o trabalho todo . . .
- Sou eu! Prazer. (diz-me o rapaz do lado esticando-me a mão)
(agora teria todo o tempo para perceber qual a razão da sua atitude na manhã anterior) – pensava.
- Prazer, eu sou a Inês, espero que percebas de Biologia, porque eu e ela estamos assim com uns problemitas, nada pessoal, mas sabes como é que é?! (Ri-me)
- Sim, safo-me, só espero que isso não seja uma desculpa para não trabalhares.
- Hó nada disso, não sou dessas, podes confiar.
- Agora vou distribuir estas folhas com o conteúdo que vocês e os vossos parceiros terão de analisar e preencher em casa, boa sorte.

Toca. No corredor:

- Que me querias dizer no inicio da aula? – Ia dizendo o Mauro enquanto caminhávamos pelos corredores.
- Eraa, . . . Não sei se te lembras, mas ontem eu levei com um balde de tinta em cima, e tu ajudaste-me e há minha amiga também, porquê? É que não nos conhecias de lado nenhum. – Interrogava eu.
- Há isso, não foi nada de mais, eu só acho que não mereciam o que aquele otário do Rodrigo vos fez, e eu já passei por isso há um ano atrás, chegou a vez de retribuir.
- Ohhh, foi muito simpático da tua parte obrigada, e já vi que também não gostas nada do Rodrigo, bem então junta-te ao club, porque ele entrou na minha lista negra. (Rimos)
- Não mesmo, mas bem, passando há frente, como é com o trabalho de Biologia?
- Por mim começamos já hoje, só preciso saber horas e lugar.
- Calma, calma, tas com muita vontade de trabalhar tu, ahah.
-Ho nada disso, so que acho que quanto mais cedo começarmos mais depressa o acabamos e ficamos livres.
- Pois é, então por mim hoje também, pode ser no final das aulas, na minha casa?
- Ok, final das aulas perfeito, agora, tua casa? Não sei?! – Disse eu meio desconfiada.
- Qual é o problema? Eu não te rapto, nem te vou tirar os órgãos para fazer experiências, a sério, mas se não quiseres escolhemos outro lugar, por mim é na boa.
- Não não, ta óptimo, tens é de esperar por mim no portão ao final das aulas, porque não se onde moras.
- Claro, está combinado então?
- Combinadissimo. Até logo. – Disse eu já afastando-me, em direcção ao meu cacifo.
- Até logo.
 
Passou-se a manhã, 13:45h:
- Ei Mariza. Peraaaaa… - Gritava eu numa corrida acelerada pelos corredores fora, para a apanhar.
- Calma, respira, diz, mas rápido que tenho de ir para o estádio e só tenho 15min.
- Ok ok, era so para dizer, que hoje não vou contigo para casa, vou fazer um trabalho, depois explico melhor, vá beijinhos, que corra tudo bem, JUIZOOOO!
- Obrigada Loirinha beijinhos.

(Sinto uma no meu ombro, assustada viro-me)
- Bora? – Disse o Mauro.
- Aí pá, assustaste-me. Sim vamos.
- Desculpa não era minha intenção, vamos então.

Como o Mauro não morava muito longe iam a pé, mas ainda eram sensivelmente 10min.foram conversando pelo caminho, no estádio da luz:

-Ufaa, ainda tenho 5min.- Dizia a Mariza enquanto olhava para o relógio do telemóvel e ia andando até á recepção onde a mandariam fazer hoje outro trabalho. – Boa tarde, que me reservaram hoje?
- Boa tarde, hoje vai estar numa sala com mais uns colegas seus num perparamento de línguas e guia de crianças. Está aqui o cartão de visitante, o local onde vai ser a reunião e tudo o que necessita para hoje, que corra tudo bem, boa sorte.
- Obrigada. – Caminhava Mariza em direcção há sala da reunião.

Entretanto Inês e Mauro acabam de chegar a sua casa, Mauro abre a porta:
- Entra Inês!
- Tens a certeza que posso? Não vou incomodar?
- Claro que não, não está ninguém em casa, entra lá.
(Entrei, e parecia a minha casa, branca e vermelha (Benfica) por todo o lado, taças, medalhas, . . .
- Estou a ver que temos aqui um grande Benfiquista.
- Tenho de ser, se não há guerra cá em casa.
- Ah ah, com o teu pai? Mas és do Benfica só porque ele quer?
- Não nada disso, é mais pelo meu irmão, e sou Benfiquista porque é o melhor clube de Sempre, não preciso que ninguém o escolha por mim.
- Assim é que é falar, pensei que fosses filho único.
- Não por acaso tenho mais dois irmãos, uma irmã mais nova e um mais velho. Tens fome?
- Não obrigada, vamos então começar o trabalho?
- Vamos, o meu quarto é lá em cima, segue-me.

Por momentos hesitei subir as escadas, quer dizer, eu não o conhecia lá muito bem, parecia ser porreiro, mas ainda não sabia lá muito sobre ele, depois a casa era gigante e não estava lá ninguém. Seria boa ideia subir até um quarto de um rapaz desconhecido?

- Então de que estás há espera? Vamos?!
- Vamos vamos. - Lá fui eu.

Entramos, pousamos as malas, tira-mos os cadernos e instalamo-nos ali a trabalhar. De repente ouvi-mos o som de uma porta a bater:
- Que foi isto? – Saltei eu assustada.
- Há, não é nada, deve ser só o meu irmão que chegou agora dos treinos.
- Haaaaa, ok, olha posso ir á casa de banho?
- Sim claro, é aí ao fundo do corredor, a última porta á esquerda.
- Obrigada – Saí, e fui directa ao wc.

(No quarto)
O meu telemóvel, deixado em cima da cama do Mauro, vibrava e vibrava, O Mauro já muito curioso, olhou para o ecrã e vê: Fernando Torres ♥  e uma imagem nossa muito apaixonados.
Eu chego:
- De volta, vamos continuar? Ei esse não é o meu telemóvel? – Dizia eu reparando que o Mauro o tinha na mão.
- Desculpa, é que ele não parava de vibrar, e fiquei curioso, bem, mas agora ainda fiquei mais, desculpa eu sei que não o devia ter feito.
- Não faz mal, mas ficaste curioso, porque?
- Tu e o Fernando? Torres? Ninguém diria, ainda estou em choque, nunca pensei, ah e toma, acho que também recebeste um SMS.
Agarrei no telemóvel apressadamente.
Mensagem recebida:
Hola mi amor, todo está bien, lo siento acaba de dar noticias de la actualidad, pero quecon las pruebas de habilidades prácticas, que trata de la instalación, ha sido una locura. que debe estar pensando que me olvidé de ti, pero no, nunca, donde quiera quevaya siempre estás conmigo cada día, cada hora en cualquier lugar, muero de saudades, así que tienes tiempo de ir allí. Te amo demasiado, Torres ♥”

De repente sinto os meus olhos encherem-se de lágrimas, e um aperto no coração chamado: Saudade. Eu pensava que já se tinha esquecido de mim, mas pelos vistos não, nem eu dele, mas esta distância estava a dar cabo de mim.

- Então Inês? Tudo bem? Anda cá. – Dizia o Maura já abraçando-me. – Sabes que podes falar comigo.
- Obrigada. – Disse eu apertando-o com força.
(permaneceu um silêncio no quarto durante um curto tempo onde só se ouvia o soluçar do meu choro)
- Olha a mensagem era do Torres? Desculpa, sei que não tenho nada a ver com isso, mas está a custar-me ver-te assim.
- Sim era, não, eu sei, não faz mal, o que queres saber? – Dizia eu enquanto limpava os meus olhos azuis.
- Falamos melhor na cozinha, enquanto comemos alguma coisa, pode ser?
- Sim claro, por acaso já estava com fome.

Fomos descendo as escadas em direcção há cozinha e eu ia ouvindo uma conversa, e umas gargalhadas. Quando íamos a passar pela sala o Mauro agarrou-me pela mão, passei os olhos vagamente pela sala, reparando que estavam 2 Rapazes a jogar playstation, mas naquele momento só tinha a imagem do Torres na minha cabeça juntamente com as suas lindas palavras da sms.
- Desculpa estar a perguntar, mas, eu vi bem, ou ando a ter alucinações?! Era o Rúben Amorim e o David Luiz que estavam na sala? Na TUA sala?

domingo, 8 de maio de 2011

song's


Inês e Fernando na última noite juntos...


Inês a pensar no complicado futuro com Fernando...


Inicio das aulas...


INÊS&FERNANDO


Mariza e Rodrigo conhecem-se...

Roupas utilizadas para o 1º Capítulo

                                                             
Image and video hosting by TinyPic
Roupa utilizada por Mariza

Image and video hosting by TinyPic
Roupa utilizada por Inês

Image and video hosting by TinyPic
Moto de Mariza

1ºcapítulo (narrado por Mariza) - Mas que dia!...

Bocejei e espreguicei-me. Levantei-me e dirigi-me à casa-de-banho.
Voltei ao meu quarto e coloquei-me em frente ao espelho. Comecei a fazer uns pequenos alongamentos. Saltei à corda e fiz abdominais.
Já cansada e suada, dirigi-me ao roupeiro. Era o primeiro dia na Universidade, portanto queria estar bem, mas nada de muito chamativo.
Optei por uma blusa branca de cavas, umas jeans claras, um cinto castanho para as calças não me caírem (eheh). Para complementar o visual descontraído, tirei um colete preto do cabide.
Levei toda a roupa para a casa-de-banho e fui tomar banho.
De seguida, vesti-me, enquanto os caracóis começavam a ganhar definição e volume. Voltei ao meu quarto, procurei um colar comprido que caísse bem no conjunto e finalmente, encontrei um perfeito. Calcei as botas de salto alto e fui arrumar a mochila. Olhei para o relógio que tinha no pulso e conclui que tinha 20 minutos para tomar o pequeno-almoço e esperar por Inês. Arranjei também o equipamento de dança para a tarde.
Desci as escadas. Fui à cozinha ter com a minha mãe.
- Buenos días, mamã! – exclamei, dando-lhe um beijinho na bochecha.
- Olá, bom dia, querida. Despachaste-te muito cedo! – comentou ela, olhando para o relógio.
- Pois, se calhar é dos nervos.
- Não estejas nervosa. Vai correr tudo bem, vais ver.
- Sim, assim espero. – sorri.
- Vá, os teus cereais preferidos estão à tua espera!
- Boa! Estou cheia de fome! – sentei-me à mesa e levei a colher à boca cheia de Crush.
- Fizeste os teus exercícios matinais?
- Claro.
- Óptimo. Hoje tens dança, não tens?
- Sim.
- O Ricardo deve estar cheio de saudades tuas.
Revirei os olhos. A minha mãe incentivava-me ao máximo para que eu me tornasse uma bailarina profissional, mas eu era incapaz de imaginar que era esse o meu futuro. E, eu já há algum tempo que desconfio, que ela tem esperanças de eu e o Ricardo começarmos a namorar. O que era uma perfeita tolice, mas não queria visualizar a imagem da minha mãe ao saber que o Ricardo não gostava de meninas... aliás dáva-lhe um treco de soubesse que o seu namorado também dançava na nossa Academia, uiii Jesus...!
Acabei de comer rapidamente. Tirei o telemóvel do bolso das jeans e escrevi: “Estou pronta. Já podes descer =D” e enviei para a Inês.
Resposta? “Sorry, estou um pouco atrasada. A culpa é do González! Vai ligando a moto...”. Escrevi: “OK”.
Despedi-me da minha mãe, pus a mala ao ombro, fui buscar as chaves da moto e dois capacetes.
Desci as escadas do prédio e por acaso ouvi a Inês a gritar no andar de cima:
- Não, González, não! Gatinho mau! Gatinho mau!
Não resisti em não rir.
Sentei-me na moto. Procurei os meus óculos de Sol Ray Ban Aviator e pu-los. Coloquei o capacete e liguei o motor.
Ouvi a porta do prédio a fechar-se; era Inês muito apressada.
- Bom dia. Bom dia. Desculpa lá o atraso.
- Bom dia. Não faz mal nem estamos muito atrasadas. Hoje acordei mais cedo.
- Pois também eu, mas o González atrasou-me.
- Deves-me séria explicações!
- Hã?
- O que estavas a fazer ao Laranjinha?
- Óh. Só quer é festinhas e atum, sabes como é...
- Pois-pois. Estou a ver que tenho de lhe arranjar um advogado e bom!
Inês deu uma gargalhada. Colocou o capacete e sentou-se atrás de mim, agarrando-me bem a cintura.
- Vamos lá, então! – exclamou.
Arranquei do passeio e fomos pela estrada fora.
Chegámos com 10 minutos de antecedência à primeira aula.
Fomos passear pelos corredores a observarmos o ambiente e as pessoas.
Muita correria, muita agitação, muitas capas pretas.
Mesmo à nossa frente, aparece um rapaz baixinho, com óculos e aspecto betinho. Trazia nas mãos um balde de tinta verde e estava pronto para o espetar pelas nossas cabeças a baixo.
Inês abriu a boca em estado de choque.
- É que tu nem penses em fazer isso, parvalhão! – exclamou ela.
- Pois, é que se o fizeres tens um processo em cima! A minha mãe é juíza! – grande mentira minha, mas pronto.
- Exacto! E o meu pai faz musculação duas vezes por dia! – exclamou Inês.
O rapaz olhou-nos desconfiado. Mas, pensou bem em não cometer o maior erro da vida dele e deu meia-volta e zarpou dali.
Olhámos uma para a outra e rimo-nos. Uffa, foi por pouco.
- Somos muito boas, Espanholita.
- Ah, pois é, Loirinha. Tinta verde, ainda por cima? Nem pensar!
- Nem pensar mesmo. Somos do Benfica!
- Ah, então não há problema nenhum! – exclamou uma voz masculina astrás de nós. Curiosas, virámo-nos para trás. Só tive tempo de fechar os olhos o mais rápido que consegui. Inês berrou.
Caímos no chão, todas ensopadas com tinta vermelha.
Inês abriu os olhos, fitou-se a si própria e disse:
- Bem, pelo menos é tinta vermelha...
- Só podes estar a gozar comigo, Inês!
O rapaz que nos atingiu violentamente com tinta dava mil gargalhadas.
De repente, à nossa volta formou-se um círculo de estudantes cuscos.
Um outro rapaz saiu do círculo e estendeu uma mão para Inês e ajudou-a a levantar. Fez o mesmo para mim, mas eu nem sequer olhei para ele; Olhava furiosamente o rapaz loiro que nos fez aquele rico serviço.
Levantei-me sozinha e dei um passo em frente.
- TU VAIS PAGAR POR ISTO! – berrei-lhe.
- Hey-hey, calminha giraça. Foi só uma brincadeira! Não é preciso ofenderes-te!
- Uma brincadeira? – perguntei, semicerrando os olhos.
- Exacto.
- Já que gostas tanto de brincar, vou mostrar-te a minha brincadeira favorita! – disse-lhe. Ele aguardou, fitando-me com os seus olhos meio cinzentos. – ESTA! –exclamei ao mesmo tempo que lhe dei uma valente chapada que o fez cambalear. O rapaz agarrou-se ao maxilar vermelho, estupefacto.
- Ora toma lá! – disse Inês, orgulhosa.
- Vamos, Inês! – agarrei-lhe o braço, destruí o círculo outrora formado à nossa volta e fomos procurar uma casa-de-banho.
Acabei de limpar a minha roupa. As jeans tinham sobrevivido. A blusa mais ou menos, ainda estava um pouco manchada. O cabelo estava um caco. Agarrei no meu telemóvel e procurei a música Zombie dos The Cranberries – ouvia-a sempre que estava irritada.
Inês ainda se estava a limpar o melhor que podia.
- Bela maneira de começar o ano escolar. – comentou Inês.
- Ah, nem me digas nada! Detesto estas porcarias! Ainda por cima, depois de almoço tenho de ir ao Estádio para me informar sobre o estágio. E tenho de ir assim! Mas que raiva!
- Acalma-te, Mariza! Não estás assim tão mal. A minha roupa e cabelo estão muito piores. – informou ela, olhando-se ao espelho.
- Eu ajudo-te. – disse-lhe, molhando mais um monte de papel.
- Tens a certeza que ficas bem? – perguntou Inês.
- Também se não ficar, não tenho outro remédio.
Inês sorriu.
- Vá, então boa sorte para as aulas.
- Para ti também.
Abraçámo-nos e fomos cada uma para a sua sala.
A minha primeira aula ia ser demasiado fácil. Era Espanhol. Mas que ironia...
Sentei-me num lugar vazio e aguardei pelos meus novos colegas e professor. Tirei um caderno de apontamentos e uma caneta.
- Pensava que gostavas de vermelho.
Virei ligeiramente a cara.
- Eu repelo a sujidade. – respondi ao rapaz loiro a quem à pouco dei uma chapadona.
- Começámos com o pé esquerdo. E que tal de novo? Olá, chamo-me Rodrigo e tu?
Olhei para ele, com pouca paciência.
- Okay, adeus!
- Isso é assim? Que mal-educada.
- É como eu quiser e o culpado foste tu. Não sou mal-humorada nem mal-educada. A culpa é tua!
- Ainda bem que não és. Já estava a ficar preocupado.
- Ai sim? Então porquê?
- Porque pareces ser muito interessante.
- Olha, não tens outra alma para atormentar? Recolhe a âncora e faz-te ao mar.
- Nãa, o meu barco acabou de âncorar.
- Que pena para mim!
O rapaz puxou a cadeira ao meu lado e sentou-se.
- Vais-te embora, certo?
- Ora aí está uma coisa que eu não vou fazer.
- Olha, estás a começar a irritar-me! Vai-te embora antes que te dê outra chapada.
- Sabes, há peixes difíceis de pescar, mas um pescador não desiste de os apanhar.
- O que raio quer isso dizer? Eu gosto muito de peixe, mas isto já é peixaria a mais!
De repente, entra a Professora de Espanhol. Eu começo a dar cotoveladas ao Rodrigo para que ele fosse para outro lugar qualquer, mas ele não arredava o pé. Raios me partam!
- Sai daqui! – disse um pouco alto demais.
- Cualquier problema? – interrogou a professora arrogante.
- No, no. Perdóname. – disse-lhe.
Ela olhou para mim, curiosa.
- Deves ser a Luso-espanhola.
Arqueei a sobrancelha. Suspirei. Iria ser discriminada ou algo assim?
- Sim, sou.
A Professora dirigiu-se à secretária e os estudante começaram a tirar os materiais necessários para a aula.
- És Espanhola? – murmurou Rodrigo.
- Não tens nada a ver com isso.
E a professora começou a lessionar a aula.
No intervalo fui à secretaria a perguntar pelo meu Estágio.
Informaram-se que começava hoje. Indicaram o local onde me deveria dirigir, até me deram um mapa, ao qual agradeci profundamente.
À hora de almoço encontrei-me com Inês e fomos à Pizza Hut perto da Universidade.
- Então, como correu?
- Acho que arranjei um fã louco.
- Hã? Um fã louco? Que história é essa?
- O tipo chanfrado dos carretos que nos lançou a tinta para cima, chama-se Rodrigo e ficou colado ao meu lado durante a aula de Espanhol.
- A sério? Deste-lhe outra chapada? – perguntou Inês a rir-se.
- Quase! Ele estava a por-me fula outra vez!
- O que queria ele?
- Queria saber o meu nome, mas não lho disse. Depois eu queria que ele me deixasse em paz, mas ele ainda a picar o meu cérebro! De seguida, disse-me algo do género: “ Há peixes dificeis de pescar, mas os pescadores não desistem...” Enfim, coitado. É taradinho.
- Eu cá acho que está arrependido de te ter atirado a tinta para cima.
Fiz uma careta.
- E também acho que está interessado em ti.
- Hum, yah ele também disse isso. Acho eu.
- Estás a ver? Tenho razão.
- Quero lá saber disso. Ele que não me enerve, que não se meta comigo, porque eu não gosto dele!
- Olha que ele é bem giro. Parecia ter olhos cinzentos.
- Por acaso até tem, mas isso não me influência. Não me curvo perante nenhum rapaz, sabes disso, Loirinha.
- Isso é porque ainda não te apaixonaste.
- E talvez seja melhor assim...
- Teimosa!
- Pois sou, mas tu gostas de mim à mesma.
- Uma bela verdade, Espanholita.
- Então, já falaste com o Torres?
Inês baixa a cabeça em sinal de tristeza.
- Não, ele deve estar no avião.
- No avião?
- Ah, pois. Esqueci-me de te dizer que ele hoje partia para Inglaterra.
- Já vai começar a jogar?
- Tem de ser.
- Hum, ok.
- Agora vais para o Estádio?
- Sim, vou. Mais logo vais ao Ginásio?
- Sim, e tu vais à Academia?
- Yap.
- Então, depois eu vou lá ter, porque devo-me despachar mais cedo do que tu. Dás-me boleia, não é?
- Claro, Loirinha.
- Fixe.
Despedimo-nos. Inês voltou para a Faculdade e eu fui para o Estádio de moto. Tinha todos os documentos que precisava. Estava um pouco nervosa, não sabia ao certo aquilo que me estava reservado.
Estacionei a moto no pequeno parque ao pé do Estádio. Tirei o capacete.
Arranjei o cabelo. Tirei os documentos e comecei a caminhar.
- HEY, ESPANHOLA! – ouvi alguém gritar.
Franzi as sobrancelhas e virei-me para trás.
Arrependi-me no segundo seguinte. Isto não me está a acontecer!
Era o Rodrigo a correr para me alcançar.
Virei-me e acelerei o passo.
- ESPERA AÍ, ESPANHOLA! – exclamou muito perto de mim.
- Não me chames Espanhola!
- Não sei mais nada sobre ti. Não me disseste o teu nome.
- Se te dizer o meu nome, nunca mais me vais chamar “Espanhola”?
- Prometo que nunca mais.
- Mariza.
- Mariza? Lindo nome.
- Obrigada.
- Também vais estagiar?
- Eu vou. Espera! Não me digas que tu também!
- Okay, então eu não te digo.
- Estás a gozar, certo?
- Não. Mandaram-me para aqui, porque sabiam que já conhecia bem os cantos à casa.
- O que queres dizer com isso?
- Faço parte da equipa de Voleybol masculina do Sport. Lisboa Benfica.
Olhei para ele. Não sabia bem o que dizer.
- Hum, que bom para ti.
- Yah, é brutal!
Fiz um mero aceno com a cabeça.
Entrámos no estádio e tratámos da papelada.
Disseram-nos que podiamos começar hoje. O senhor de bigodes engraçados deu-nos uma lista de tarefas.
Olhei para a minha. Só tinha tarefa: encaminhar os jogadores para a sala 200. Os jogadoes? OMG! Ía dar de caras com os jogadores do Benfica?!
- O que tens para fazer? – perguntou-me Rodrigo.
Não consegui dizer nada, apenas levei a folha de encontro aos seus olhos.
Dirigi-me sozinha à garagem subterrânea, onde estavam alguns carros de marcas caras e fixes.
Passado pouco tempo, entrou um carro. Estacionaram-no e de lá saiu um rapaz muito alto e moreno.
Tirou uma mala da mala do carro e dirigiu-se a mim.
- Boa tarde. Queria conversar com Rui Costa. Você me sabe dizer onde está ele? – disse o rapaz brasileiro.
- Hum, presumo que esteja na sala 200. Sobe estas escadinhas aqui, segue pelo primeiro corredor à direita e é sempre em frente.
- Obrigado.
- Pode só dizer-me o seu nome, por favor? – interroguei para apontar o nome dele nas entradas da tabela que tinha de preencher.
- Me chamo Jardel, sou novo por aqui.
Apontei na tabela.
- Obrigada. É novo, é? Então, se calhar é melhor acompanhá-lo até à sala. Siga-me, por favor.
- Obrigado.
Enquanto nos encaminhávamos para a sala:
- A menina trabalha aqui, não é verdade?
Ri-me.
- Sou estagiária. Comecei hoje.
- A sério?
- Sim. – sorrindo.
- Que sorte a minha ter encontrado uma estagiária tão simpática.
- Obrigada. – corando um pouco. – Estou um nadinha nervosa.
- Não parece nada. Está indo muito bem.
- Obrigada mais uma vez.
- Como se chama?
- Mariza Martínez.
- O seu apelido não é Português, não.
- Pois, não. Nasci em Barcelona.
- Ah, então é espanhola.
- Sou Luso-espanhola.
- Ah, muito bem. Acho que vou ter colegas espanhóis. Espero que sejam boas pessoas.
- Ora de certeza que são. – sorri-lhe.
- É. Acabei de ficar com boa impressão dos Espanhóis.
Sorri-lhe. Ele era mesmo muito simpático. E eu que estava tão nervosa.
Os jogadores de futebol são pessoas iguais a nós! Só um pouco mais ricos e alguns agressivos, mas eu também não podia falar muito (ahah).
- Pronto, aqui estamos. É esta a portinha.
- Obrigadão!
- De nada, sempre às ordens. Com licença.  – disse, voltando ao meu posto.
Eram 18 horas e isso queria dizer que tinha de me ir embora.
Fui de encontro ao senhor de bigodes, dando-lhes as boas tardes e fui-me embora.
Cheguei num instante à Academia.
Fui aos Balneários para me equipar. Vesti um top justo e uns calções curtinhos pretos. Dirigi-me à sala e avistei Ricardo a aquecer ao som de She’s a Maniac.
- Tudo bem, Ricky?
- Tudo óptimo, amori. – disse ele num tom muito abichanado. Elevou-me no ar, na brincadeira.
- Continuas leve como uma pena.
- Isso é óptimo de ouvir. – ri-me.
- Vamos alongar?
- Vamos a isso! – exclamei, entusiasmada.
A pouco e pouco, juntaram-se a nós os nossos colegas de dança, assim como a nossa professora ucraniana.
Esta informou-nos que antes das férias de Natal, faríamos um espectáculo para apresentarmos.
Eu e Ricardo começámos por fazer espargatas.
Depois fizemos: grand plié e en croix vezes sem conta para os músculos se habituarem ao movimento.
Giselle (a nossa professora) ensinou-nos uma nova coreografia.
Eu e o meu parceiro aprendemo-la bem, sem dificuldades.
A aula pareceu acabar num instante, nem queria acreditar que já se tinham passado 3 horas.Voltei ao Balneário e tomei um duche rápido.
À porta da Academia encontrava-se Inês.
- Como correu a aula?
- Magnificamente bem! – sorri-lhe super bem-disposta.
Montámos na moto e fomos para casa.

Roupas utilizadas para o Prólogo

Flamenco - Mariza

 Utilizada por Inês durante o passeio por Barcelona

Vestido utilizado por Inês durante o jantar com Fernando


Utilizada por Mariza durante o passeio a Barcelona 

 González, gato de Inês

sábado, 7 de maio de 2011

PRÓLOGO

Ouviam-se gargalhadas e vozes super alegres na praça principal de Barcelona.
Mariza Martínez olhou para o céu, onde resplandescia um belo dia de Verão. Esticou os seus braços no ar e interrogou:
- Esta cidade não é linda?
A sua melhor amiga, Inês Oliveira seguiu o exemplo da sua amiga e fechou os olhos, quase a pairar no ar.
- É linda, sim senhora!
- Pois, principalmente agora! Com o chico Torres! – exclamou Mariza, rindo-se ao agitar as sobrancelhas de forma perversa.
Quando Inês encontrou o seu olhar, fingiu estar furiosa e fez-lhe um olhar faiscante. Mariza mirou-a e começou a correr à sua frente, sem parar de rir.
Ambas cansadas de correr e sem fôlego, deixaram-se cair no muro à volta de uma fonte muito bela, cuja água cristalina chamou à atenção dos olhares das amigas.
- É pena que amanhã tudo isto acabe... – sussurrou Inês.
Mariza pousou a mão no ombro dela.
- Não te preocupes. Vamos estar super fresquinhas para aguentar com mais um ano de aulas!
- Sim, não há dúvida que estas férias nos fizeram maravilhas, mas...
Mariza mirou-a atentamente.
- No fundo estás assim, por causa do Torres, não é verdade?
Inês deixou escapar um suspiro. Mariza abraçou-a.
Sim, era verdade, as férias para as duas vizinhas de um humilde prédio nas Laranjeiras, perto do Jardim Zoológico de Lisboa.
Os pais de Mariza estavam agora divorciados; à 20 anos atrás, Fernando Martínez tinha visitado Lisboa e, sem saber bem como, conheceu Helena Silva. Os noivos, apaixonados, decidiram começar a sua vida de casal em Espanha, mais precisamente em Barcelona, onde uma grande mansão os esperava, de modo a viveram felizes para sempre. Dois anos depois, nasceu Mariza Silva Martínez – uma menina bonita, muito divertida e curiosa, que assistia todas as noites às bravas discussões dos pais. Um ano depois, nasceu o seu irmão, Alejandro Martínez, que infelizmente, não veio apaziguar o forte desentendimento entre os pais. Passados poucos meses, Fernando e Helena separaram-se. Mariza veio morar com a mãe para Laranjeiras em Lisboa e Alejandro ficou com o pai em Barcelona.
As férias de Verão são a única altura em que Mariza volta à sua terra, convive com o seu irmão , com o seu pai, com os seus imensos primos e volta a abraçar a sua querida cidade de berço.
Todos os anos a história repete-se, mas este ano foi especial! Foi diferente!
Mariza não deixou Lisboa, agarrou nas suas malas pesadas e entrou no autocarro sozinha; desta vez, levou consigo a sua melhor amiga: Inês – sua vizinha, colega de Universidade e claro está, com o seu eterno companheiro: Gonzaléz – um maravilhoso gatinho com pêlo laranja e olhos ternurentos.
As boas-vindas de Espanha trouxeram uma grande surpresa a Inês...
No primeiro dia que chegaram à cidade, Mariza apresentou-lhe o seu primo mais velho ao qual era mais amiga e tinha mais confiança: o primo Rámon.
Por mero acaso, Rámon tinha trazido para jantar e, consequentemente, para conhecer Mariza, o seu melhor amigo, o jogador de futebol: Fernando Torres. Mas a prima não tinha mostrado muito interesse no espanhol muito bem parecido... já Inês... foi outra história.
Mal se viram, o olhar perpicaz de Mariza identificou de imediato, faíscas no ar, a pairarem nos olhos um do outro. Passada uma semana, começaram a namorar. Já lá iam dois meses... Estavam agora na primeira semana de Setembro e Inês sentia-se muito em baixo pelo seu momento no Paraíso ter chegado ao fim...

Passada uma hora, estavam de volta à mansão Martínez.
- Papá! – exclamou Mariza ao depositar um beijinho na face do pai que as esperava à entrada.
- Cómo estás? Cómo fue su viaje a la ciudad?
- Fue muy bueno, papá, pero ahora estamos un poco cansadas.
- Resto. Resto. – fazendo sinal para que entrássem para descansarem.
Fernando Martínez olhou para Inês.
- Te gustó el viaje?
- Sim, gostei muito. – respondeu calmamente Inês. Já conseguia compreender bem o Espanhol, embora Fernando e os outros familiares falassem muito mais depressa do que a sua amiga.
- Y cómo está Fernando Torres?
Inês encarou os olhos quase pretos do pai Martínez. Comprimiu os lábios rosados e mordeu-os, quando se apercebeu que estavam a tremer.
Os seus olhos azuis claros encheram-se de lágrimas grossas e tapou a cara.
Mariza virou-se para trás e rosnou ao pai.
- Papá, qué le dijiste? – suspirou. Envolveu Inês com um braço e encaminhou-a para dentro de casa.
- Qué hice mal?! – interrogou-se o pobre homem, confuso.
Mariza bufou.
- Hombres! – exclamou, enquanto acalmava a sua amiga.
Estavam agora no jacuzi de uma das quatro casas de banho luxuosas da mansão.
Inês – já muito mais calma – bebia golinhos do seu IceTea de Limão fresco. Mariza estava ao telefone com a sua mãe.
- A sério? JÁ?
Inês fazia sinais com a boca, perguntando a Mariza do que é que estava a falar.
- Hum... não, não. Por mim não há problema nenhum. Só achei estranho chamarem-me assim tão cedo.
Mariza fez linguagem gestual rasca a Inês – o que contribuiu para ela ficar mais confusa.
- E é onde? – perguntou Mariza ao agarrar no copo com o seu IceTea de manga. Bebeu um gole. Depois, cuspiu-o violentamente, atingindo a cara de Inês. Esta tinha agora os olhos fechados e contava mentalmente até 10, tentanto encontrar uma pequena razão para não estrangular Mariza.
Noutras circunstâncias, Mariza ter-se-ía rido sem conseguir parar, no entanto, foi a sua calma espera pela resposta da sua mãe, que fez Inês abrir os olhos, tranquila.
Mariza estava de olhos arregalados.
- No Estádio da Luz? Tens a certeza?
- O QUÊ?! A tua mãe está no Estádio da Luz para nos comprar bilhetes para o próximo jogo do Benfica? – murmurou Inês, exigindo uma resposta rápida. Sim ou Não. Mas os seus ouvidos estavam mais dispostos a ouvir um “sim”, pois o Benfica era o seu clube do coração!
Mariza abanou a cabeça. Inês suspirou, triste, engolindo mais IceTea.
- OK, está bem, mãe. Obrigada por me teres telefonado. Beijinhos. Até amanhã. – despediu-se e clicou no botão para desligar.
Lentamente, levantou os seus olhos castanho-esverdeados para encarar Inês. O que se passa? – sussurrou Inês, até com medo de falar alto.
- Eu. Vou. Estagiar. No. Estádio. Da. Luz. – disse, respirando com dificuldade.
Inês levantou as sobrancelhas.
- Estás a gozar comigo, não estás?
- Não, não, nada disso, carinõ! Eu vou mesmo estagiar lá. Para o curso onde me inscrevi, a Universidade arranja logo sítios para os estagiários aplicarem os conhecimentos que vão aprendendo.
- OMG!
- Pois!
- E qual vai ser precisamente o teu trabalho?
- Pelo que a minha mãe me disse vou trabalhar com jovens, como organizar visitas guiadas ao Estádio e coisas do género.
- UAU, Mariza! Que sortuda!
- OH! A ver se arranjo bilhetes de borla aqui para a gente!
- Óptima ideia!
Riram-se.
O telemóvel de Inês vibrou. Esta pousou o copo e mirou o ecrã.
A cara que Inês fez, incentivou a curiosidade de Mariza.
- O que se passa?
- É o Torres.
- Atende, rapariga!
- Estou?
Mariza tentava perceber a conversa. Pelo que o seu bom ouvido dizia, Torres estava a convidá-la para sairem uma última vez.
- Aceita! – disse ela.
Inês mordeu o lábio, indecisa.
Mariza estava quase a arrancar-lhe o telemóvel das mãos para dizer Ela aceita!, quando Inês disse:
- Sim, OK. Vou-me arranjar, então. Beijos.
- Ai, não sei o que hei-de vestir! – disse Inês, cruzando os braços como que a desistir.
- Calma, Loirinha! – exclamou Mariza ao procurar exaustivamente no grande armário que continha a roupa que ambas tinham trazido para as férias e... que tinham comprado nas belas lojas de Barcelona.  Pegava em várias peças de roupa que lhe pareceram as mais adequadas e estendeu-as na cama. Depois de algumas discussões entre as duas, fizeram a sua decisão final: o vestido “AMOR” turquesa. Deram-lhe o nome “AMOR”, porque o acharam mesmo um amor (eheh).
Inês maquilhou-se um pouco, respirou fundo e saiu para o corredor.
As amigas chegaram à porta da mansão; a sala estava cheia de gente.
Os primos de Mariza – uns da sua idade, outros mais velhos – conversavam alegremente com o pai Martínez e com as irmãs dele. Mariza também reparou, por coincidência, que não estavam lá presentes nenhuma das namoradas dos seus primos. Achou estranho.
Abriram a porta e miraram a noite; ainda não conseguiam avistar nenhum carro.
Inês respirava com dificuldade. Mariza olhou-a, levantando uma sobrancelha fina.
- O que foi, Loirinha? – perguntou, dando os últimos retoques ao lindo cabelo loiro de Inês.
- Ai, estou nervosa.
- Não estejas, cariño. Lembra-te: age com naturalidade e não mostres que estás nervosa! Ele adora-te e tu a ele, vai correr tudo bem.
- E quem te disse que vai correr tudo bem?
- O meu sexto sentido.
- Será de fiar?
- Claro, ora essa!
Mariza fez uma cara cómica, fingindo estar profundamente ofendida;
Inês riu-se; Era esse o objectivo.
De repente, saindo da noite escura, vislumbram um Porche preto muito brilhante. Sai de lá: Fernando Torres. Trajava uma camisa fresca azul escura e umas jeans escuras. Tinha o cabelo bem penteado e os seus olhos brilhavam, quando os pousou em Inês. Enquanto se encaminhava até às duas amigas que tinha feito, graças ao seu grande amigo Rámon, pensou em dizer à sua namorada o quanto estava bela. Depois pensou que seria um disparate afirmar o óbvio, afirmar o que ele já tinha visto à muito tempo: o quão linda era ela vista pelos seus olhos apaixonados. Ficou então, na dúvida, mas o que é certo é que mal chegou até elas, disse:
- Estás guapísima!
Inês corou e respondeu:
- Obrigada.
Por momentos mágicos deixaram-se ali ficar, de frente um para o outro, mirando-se minuciosamente. Até que uma voz fina, que disfarçava um riso harmonioso, fez quebrar o encantamento que mantinha os olhos fixos um no outro.
- Boa noite também para ti, Fernando. – disse Mariza.
Fernando olhou para ela, só agora parecendo reparar na sua presença.
- Oh, buenas noches, Mariza. Cómo estás?
- Muy bién, muy bién! Y tú también, supongo.
Ele sorriu.
- Vá-vá! Vão lá embora. Divirtam-se! – exclamou Mariza, dando um impurrãozito leve a Inês.
Fernando já estava a entrar para o carro, enquanto Mariza tentava a chamar à atenção da amiga.
- Juízo, sim?
- Claro, mãe.
- Estou a falar a sério.
- Eu também.
Mariza mostrou-lhe a língua e Inês fez-lhe o mesmo.
De repente, uma tia de Mariza aproxima-se dela, pondo-lhe o braço em cima.
- Mariza! Vamos, vamos! Va a vestirse para el espectáculo!
- Qué espectáculo? – inquiriu ela, confusa.
- Tú y las novias de tus primos a bailar Flamenco!
- CÓMO?! – berrou um pouco histérica.
Inês riu-se. Mariza fitou-a e não compreendeu a sua reacção.
- O que foi? Que mal tem? Vai lá dançar. Tu adoras dançar, principalmente Flamenco. Vai lá, diverte-te tu também! – afirmou Inês.
Mariza sorriu, fazendo covinhas nas bochechas. Enviou um beijo à sua amiga e foi arrantada para dentro de casa.
Inês entrou assim no carro.
Fernando agarrou-lhe na parte lateral do pescoço e beijou-a apaixonadamente, como se estivesse extremamente ansioso por fazê-lo.
Inês correspondeu ao beijo num acto reflexo.
Depois do intenso beijo, Fernando fez festinhas na cara rosadinha de Inês.
Inês pousou a mão no peito do seu namorado, sentindo os seus batimentos cardíacos.
Após alguns momentos a olharem-se, Fernando voltou a focar a sua concentração no carro e na estrada e sairam pelos grandes portões da mansão.
Mariza fitou de olhos arregalados, (quase de pânico) o vestido branco com flores pretas a adornarem-no. Detestava folhos e naquele vestido de flamenco predominavam folhos! Não queria dançar dentro daquele vestido foleiro e justissímo, mas tinha de o fazer...
- Está usted listo? – interrogou a namorada do primo Juan.
Mariza olhou para a espanhola morena e fez beicinho.
- No quiero usarlo.
- Por qué?
- Es muy feo!
- No es nada! – exclamou a espanhola, ajudando a despir a T-shirt laranja de Mariza.
Vestiu o vestido e mirou-se ao espelho, aborrecida.
Mordeu o lábio, analisando bem todos os ângulos de visão.
Não me fica nada mal, pensou ela.
O vestido justo ajustava-se perfeitamente nos seus ombros firmes e na sua cintura fina; o decote fazia-se pronunciar no seu peito.
Os folhos não são assim tão foleiros, reconheceu.
A namorada do seu primo, deu-lhe uma flôr branca para pôr no cabelo e ela assim o fez. Deu volume aos seus caracóis tão negros que faziam intimidar a noite mais escura do ano, respirou fundo e saiu do quarto.
Inês entrou num restaurante chique, sentindo a mão de Fernando na sua cintura delgada. Entraram calmemente. Fernando apontou para uma mesa pequena, acolhedora e distanciada das outras. Ajudou Inês a sentar-se na cadeira almofadada, empurrando-a com delicadeza quando a sua namorada se sentou. Fernando sentou-se; estava corado, mas não deixava de fitar a sua bela Inês.
Pouco tempo depois, um empregado de meia-idade veio à mesa com a ementa.
- Para empezar, queremos chorizo. – afirmou Fernando.
O empregado tomou nota.
- Luego, queremos paella de marisco. Y para beber son dos té helado de limón.
- Gracias. – disse o empregado, apontando os últimos pedidos, retirando-se.
Inês olhou Fernando. Esticou a mão de encontro à sua. Falaram pouco, gostavam mais de ficar horas e horas olhando nos olhos um do outro, apreciando o silêncio entre eles.
- Qué pasa? – perguntou ele em voz calma.
- Nada. – respondeu Inês, sem o fitar. Olhava para as suas mãos finas a contrastarem com as mãos grandes do seu namorado.
- Estás un poco triste.
- Eu? Não, é só impressão tua. Deixa.
- Te conozco, estás triste! Qué pasa? Dime.
Inês encolheu os ombros, suspirando.
- É só que... – mordeu o lábio – é só que amanhã vou-me embora e não vamos poder estar juntos... talvez, nunca mais nos voltaremos a ver... e eu não sei como lidar com a situação... – os seus olhos ternos encheram-se de lágrimas.
Fernando levantou-se e enjoelhou-se no chão. Pegou firmemente nas mãos de Inês, olhou-a nos olhos e disse:
- Te amo. Te amo! No hay distancia que nos separe!
- Falas como se fosse possível vermo-nos com frequência.
- Y será posible.
Inês inspirou fortemente e virou a cara. Fernando agarrou-lhe o maxilar, não a deixando escapar dos seus olhos.
- No se preocupe. Vamos a encontrar una solución. Y ahora, cena!
Vamos a pasarlo bien y no se preocupe!
- Está bem. – disse ela, limpando as lágrimas.
Fernando inclinou-se sobre ela e beijou-a apaixonadamente.
Alejandro começou a dar os primeiros acordes na sua guitarra espanhola.
Rámon começou a bater palmas, incentivando as bailarinas, dando-lhes mais ritmo. Outras palmas se fizeram ouvir e Marisol – a namorada do primo Juan – foi para o palco de madeira (construído à anos pelo pai de Mariza) e começou a dançar com vivacidade.
Quando a música acabou, Mariza sabia que era a próxima a dançar.
Alejandro – o seu irmão – começou a tocar Dance of Spring de Jesse Cook.
Mariza saltou para o palco. A sua dança tinha pouco de sapateado (só no começo). Mostrou a sua agilidade com o ritmo que tinha no corpo.
Acabou de dançar eufórica.
Quando outra rapariga deu lugar no palco, Mariza dirigiu-se ao seu irmão e segredou-lhe ao ouvido:
- Muy bien, hermano. Tocas muy, muy, muy bien. Te amo. – dando-lhe um beijinho na bochecha e despenteou-lhe o cabelo castanho escuro.
- Y tú, bailas muy, muy, muy bien, hermana.
Inês saboreava devagar a comida. Gostava. Bastante.
Era a primeira vez que comia aquele prato.
Fernando riu-se quando ela olhou para a travessa, medrosa por não gostar do prato. Mas gostou.
Comeram muito mais descontraídos, esquecendo o facto que a partir da manhã seguinte, não se veriam...
Acabaram o delicioso jantar e Inês aguardava que Fernando chama-se o empregado, pedindo-lhe a lista de sobremesas.
Os olhos azuis de Inês brilharam com mais fulgor ao ver três homens pequenos com cerca de 50 e tal anos, sorridentes que traziam consigo instrumentos musicais. Os homens posicionaram-se mais ou menos perto da mesa onde os pombinhos apaixonados se encontravam.
Quando o unísono de violinos se fez ouvir calma e relaxadamente, Fernando levantou-se e estendeu a mão a Inês. Ela sorriu e pegou-lhe na mão. Fernando não tinha muito jeito para dançar; Inês já tinha percebido.
Mas, isso não o impediu de colocar a cabeça de Inês contra o seu peito forte e macio, agarrar-lhe bem na mão, posicionando a outra no fundo da sua cintura e balançá-la aos leves acordes dos violinos.
Acabaram a dança abraçados, com sorrisos tímidos, mas cumplices e com os olhos brilhantes pousados um no outro.
Depois de acabar de jantar e de dar as boas-noites à família, Mariza dirigiu-se ao seu quarto. Escolheu um livro da sua prateleira cheia, deitou-se na cama e preparava-se para ler Hush,Hush pela quarta vez.
Acendeu o candeeiro, esfolheou o livro até encontrar o primeiro capítulo e recostou-se na cama, apoiada no cotovelo direito.
Poucos segundos depois, algo misteriosamente laranjinha demais mexeu-se irrequieto no chão. A bolinha de pêlo laranja saltou para cima da cama e encostou-se no peito e barriga de Mariza, parecendo também ele estar a ler o livro.
- Então, González? – fazendo-lhe uma festinha no pêlo denso – Também queres ler um Romance?
A resposta obtida foi: Miau!
- Ora fazes muito bem! Ler é importante. – disse-lhe eu.
Miauf, Miauf-iauf!
- A Inês? Está a jantar com o Fernando, o seu namorado.
González espirrou.
- Não te preocupes! O rapaz é bom tipo.
González continuou a miar baixinho e Mariza foi lendo.
Como sempre acontecia, o gatinho fofíssimo começou a lamber-lhe a pequena tatuagem que tinha no polegar esquerdo: uma rosa com pequenos ramos e espinhos.
Mariza levantou-lhe a sobrancelha, como por hábito. (...)
Os olhos de Mariza já começavam a pesar.
- Mariza? Hermana? – alguém perguntou.
Mariza levantou a cabeça, arregalando os olhos e assustando González que também ele tinha despertado de um belo sono. Piscou os olhos para ver melhor.
- Alejandro? O que fazes aqui? Que horas são? – perguntou ela, esfregando os olhos e ajeitando os caracóis para trás.
- En Español, hermana.
Mariza arqueou as sobrancelhas.
- Por qué? Nuestra historia comenzó en Portugal.
- Sí, pero yo soy de Barcelona y no de Lisboa.
- Ya lo sé. Sólo estoy diciendo que debes aprender Portugués.
- Sigue despierto?
- Fuiste tú quien me despertó.
Ele riu-se.
- Ya es hora de acostarse.
Ela fez uma careta.
- Yo soy la hermana mayor! Soy yo quien da las órdenes! – disse de modo autoritário, mas na brincadeira.
- Muy bien. Muy bien, no digo más nada.
Ela deu uma gargalhada.
- Estás esperando Inês?
- Sí.
- Pero ya es tarde...
Mariza suspirou.
- Bueno, tal vez es mejor que me acueste.
- Estoy de acuerdo. Manãna puedes cansar con el viaje.
- Sí, tienes rázon. Buenas noches. – disse, inclinando-se para lhe dar um beijo.
- No tienes un novio?
- Qué? Un novio?
- Sí...?
- NO!
- Por qué dices así?
- Por qué... no hace falta un novio.
- No? – perguntou desconfiado.
- No. Qué fue? – vendo a cara estranha que o irmão fez.
- Nada, es sólo que... eres muy hermosa y debes tener un montón de chicos detrás de ti...!
- No, no realmente, Alejandro. Pero, por qué estas perguntas?
- Nada, nada.
- No oculto nada! Dime, qué pasa?
Ele suspirou. Depois contou-lhe que gostava de uma rapariga da sua escola, mas que ela parecia não mostrar interesse por ele. Perguntou-se várias vezes se a culpa era dele... algo que tivesse feito mal, algo que ela pudesse não gostar nele...
Mariza acalmou-o e aconselhou-o. Falaram quase mais uma hora.
Finalmente, despediram-se. Mariza olhou para o relógio que marcava 24 horas em ponto. E Inês sem aparecer...
Desligou o candeeiro, vestiu a camisa de dormir fresca, enfiou-se na cama e quase aos pés da cama, pernoitava também o pequeno González.
Inês berrava NÃO! PÁRA!, a Fernando que a segurava ao colo e dava pulinhos até chegar à porta do seu apartamento. Com uma mão, tirou as chaves de casa do bolso das calças de ganga e com a outra segurava em Inês. Ela apreciou a sua força. Entraram em casa. Inês agarrou na cara dele com as duas mãos firmes. Beijou-o profundamente. Fernando, com a mão livre, fechou a porta, sem tirar os lábios dos dela. Às apalpadelas, dirigiram-se ao enorme quarto de Fernando.
Pousou Inês na cama, tirou o casaco e lançou-o para cima do sofá branco perto da estante de CD’s. Inês tirou as sandálias de salto alto e atirou-as para cima do tapete escuro. Também tirou o vestido e ficou apenas de roupa interior. Fernando aproximou-se dela, lentamente, ajoelhou-se em cima da cama de frente para ela. Tirou-lhe o sutien de rendinhas brancas.
Inês despiu a camisa dele e percorreu-lhe o peito com as mãos curiosas.
Fernando agarrou-lhe o queixo num ápice. Beijou-a loucamente.
Deitaram-se, totalmente abraçados, encaixados um no outro.
Por entre suspiros e pequeninos gemidos, Inês sentia Fernando a beijar-lhe a cara, os braços, as mãos, a tocar na sua barriga e a acariciar-lhe os seios e as pernas.
Naqueles momentos, nenhum deles se preocupou com o futuro.
Nenhum deles pensou que provavelmente esta era a última vez que estariam felizes juntos.
Inês, portanto, não quis pensar que dentro de uns dias, Fernando voltaria para Inglaterra.
Fernando, por sua vez, não quis pensar que amanhã a sua amada partiria para Lisboa.
Não quiseram pensar em nada disso... não quiseram ou se calhar, até se tinham esquecido, porque o mais importante, é que naqueles derradeiros e preciosos momentos, estavam inteiramente felizes...!
Sete horas depois, Mariza estava prestes a fechar a sua terceira bagagem de roupa. Uffa!, suspirou de alívio.
Vestiu uma roupa confortável para a viagem e mirou-se ao espelho.
Os seus grandes olhos verdes estavam cansados. Bah!, detestava dormir menos de 10 horas. Mas não fazia mal, tinha mais do que tempo suficiente para dormir no autocarro. Olhou para o despertador; faltavam 30 minutos para ela e Inês irem para a paragem. Ela e Inês! Onde raio estava Inês? Perguntava-se Mariza. Pôs as malas à porta do seu quarto e o pequeno González andava a miar por entre as suas pernas, pedindo comidinha.
Mariza abriu a varanda, foi à casinha especial de González e encheu o seu pratito de comida que ele tanto gostava.
De repente, os seus ouvidos detectaram uns familiares saltos de cunha.
Virou-se para trás e avistou Inês, muito corada, um pouco despenteada e com o vestido amarrotado.
- Então, Loirinha? Isto são horas de se chegar?
- Desculpa, Mariza, desculpa. Eu acordei à bocado e vim logo para aqui.
- Hum-hum, tou a ver que a noite de ontem foi... marcante!
Inês revirou os olhos, mas sorriu.
- Não tens nada a dizer? – picou Mariza.
- Deixa cá ver... acho que... NÃOOO! – exclamou Inês, impedindo a curiosidade nata da amiga.
- Opa, vá lá! Pormenores!
- Nem pensar!
- OH! És tão má para mim!
- Pois sou.
Mariza bufou.
- Ai-ai! As minhas malas! – disse Inês, batendo com a mão na testa.
Mariza olhou-a se olhos semicerrados.
- Já estão feitas, Loirinha.
- A sério?
- Qual é o espanto?!
- Oh, obrigada, obrigada, obrigada. És a Espanholita mais fixe, amorosa e atenciosa que eu conheço! – exclamou Inês, dando-lhe beijinhos na bochecha.
Mariza levantou uma sobrancelha.
- Dizes isso, porque sou a única que conheces.
Inês riu-se. Ambas desceram até à sala. (...)
- Voy echaré de menos, papá. – disse Mariza abraçada ao seu pai.
- Y yo también. – disse o seu pai, afagando-lhe as costas.
- Ven a visitarme.
- Tal vez.
- Cuando Alejandro llega a Lisboa, tú también puedes ir con él.
- Voy a pensar en ello. Te lo prometo.
Mariza sorriu-lhe. Agarrou nas suas bagagens e foi ter com Inês à porta, que já se tinha despedido de toda a gente.
- Vamos? – perguntou Inês.
Mariza acenou com a cabeça, sentindo lágrimas nos seus olhos.
Apanharam um táxi até à cidade e lá apanharam o autocarro que as levava de volta a Lisboa. Arrumaram as bagagens e foram sentar-se.
Inês pousou com cuidado a pequena casinha móvel do González no seu colo. Tirou o telemóvel do bolso e procurou os fones.
Mariza abriu o livro na última página que lera na noite anterior. Suspirou.
- O que foi, Mariza?
Encolheu os ombros e disse:
- Não sei.
- Passa-se alguma coisa. O que foi? Diz-me.
Mariza desviou o olhar.
- Estás assim por deixares a tua família?
- Também, mas não é só isso.
- Então...?
- Não sei, Inês! É difícil de explicar.
- Ao menos podes tentar.
Mariza fitou-a pensativa.
- Sinto que alguma coisa está prestes a mudar.
- E está. Vamos regressar a Lisboa. As nossas férias de sonho acabaram.
- Não é isso. É muito mais do que isso.
- Não percebo pevas do que estás a dizer.
- Sinto que a nossa vida vai mudar. A vida de ambas. E é a partir de amanhã.
- E porque sentes tal coisa?
Mariza encolheu os ombros, novamente.
- Sexto sentido?!
- Hum, começo a ter medo do teu “sexto sentido”.
- Disseste isso de forma... misteriosa.
- Tenho razões para isso.
- Hum.
- Bom, mas também tenho de admitir que esse teu sexto sentido nunca nos deixou mal.
- Ora aí está uma boa verdade.
- Portanto, espero que essa “mudança” seja...boa!
- Pois, já somos duas.
- Não te preocupes.
- Sim, deve ser só uma parvoíce minha...
O motorista ligou o autocarro. Inês sorriu.
- Olha, vamos partir. – disse ela.
- Parece que sim.
Inês ligou a música no seu telemóvel e colocou os fones nos ouvidos.
Mariza lia, enquanto que o pequeno González dormia muito profundamente.