terça-feira, 19 de julho de 2011

5º Capítulo - narrado por Mariza Martínez

Estava atrasadíssima! Acelerei ao máximo na minha moto adorada. Estacionei e rapidamente entrei no Estádio. Encontrei o Rodrigo:
- Olá, Espanhola. Como estás? – esboçando o seu típico sorriso velhaco. – Por acaso, não estás atrasada?
- Não me chames “Espanhola”! Quase que parece racismo. E sim, estou atrasada e ter uma palerma obcecado em fazer perguntas e a enervar a moi-même, não ajuda. – disse-lhe eu quase sem respirar, devido à caminhada rápida que eu fazia.
- O Vilaça já me disse o que tens de fazer hoje.
- Ai sim? E o que é?
- Tens de ir outra vez para o Parque de Estacionamento e o resto já sabes.
- Hum... tens a certeza que perguntaste mesmo ao Vilaça o que eu tinha de fazer?
- Wow! Essa foi a pergunta mais estranha que alguma vez me fizeram.
- Podes ir-te habituando, mas sim ou não?
- Sim, tenho a certeza que foi isso que o Vilaça me disse.
- E porque é que o fizeste?
Rodrigo fitou-me com os seus bonitos olhos cinzentos pensativos.
- A resposta é mesmo necessária?
- Ouve. Tu atiraste-me um balde de tinta para cima! Para te desculpar, tens de responder às minhas perguntas com total veracidade.
- Então, vou apenas dizer que gosto de te ajudar.
- Hum... – murmurei ao ver o seu rosto aproximar-se do meu... demais. Antes que acontecesse alguma coisa, pus-lhe a mão no peito, impedindo os seus lábios de tocarem nos meus. – Tenho de ir... – franzindo a testa. Tentei não pensar no que estava prestes a acontecer; tinha de trabalhar. Corri pelas escadas abaixo. Quando estava a chegar ao Parque, tirei o meu indispensável bloco de notas e uma caneta. Subitamente, fui derrubada por alguém que se movimentava a uma velocidade-luz.
Caí no chão, abanando a cabeça.
- Credo! Tem de ter mais cuidado! – exclamei eu e só depois olhei para corpo em minha fronte. Quando o fiz, corei. – Oh, perdóname.
- Que? Otra vez? – perguntou o rapaz dos olhos castanhos que não me saía dacabeça.
Eu ri-me baixinho, ainda envergonhada.
- Será o destino? – inquiri retóricamente.
O rapaz sorriu e estendeu-me a mão. Sem pensar duas vezes, depositei a minha mão na sua e ele agarrou-a firmemente, puxando-me para cima. Fui quase de encontro ao seu peito.
- Todavía no me  ha dicho su nombre.
Mordi o lábio.
- Também não me disseste o teu... vistes do Parque de Estacionamento?
- Sí.
- Então, preciso que me digas o teu nome para eu poder registar as entredas e saídas do Parque.
- Mi llamo Javi García.
Escrevi o nome dele no meu bloco de notas, tentando disfarçar o sorriso ao morder o interior da bochecha esquerda.
- Obrigada.
- Y el tuyo?
Ponderei se havia ou não de lhe dizer o meu nome... se dissesse, que diferença faria?
- Que diferença faria se eu te dissesse o meu nome?
- Era mejor... si usted me dijo su nombre, yo dejaba de pensar en usted como “la niña de los fascinantes ojos verdes”. – afirmou ele, suavemente.
- Pensas em mim?
Javi encolheu os ombros, fingindo-se despreocupado. Mas os meus olhos analisaram-no melhor, quase que penetrando na sua alma. Ele pensava em mim... e estava um pouco envergonhado por ter confessado esse facto. Será que ele pensava em mim tanto como eu pensava nele?
- Assim sendo... chamo-me Mariza Martínez. – respondi, esboçando-lhe um sorriso.
Ele piscou os olhos variadas vezes.
- Usted tiene un apellido español.
- Pois é, mas a explicação desse facto fica para outro dia. Tenho de ir trabalhar.
Depois, não sei o que raio me deu... por instinto ou tolice ou maluqueira ou estupidez ou... por estar talvez... embeiçada por ele, estiquei-me e os meus lábios carnudos afloraram-lhe a bochecha.
- Gracias por ayudarme. – e segui pelo corredor até ao Parque de Estacionamento. (...)
A tarde de trabalho passou-se muito depressa sem muita agitação; quer dizer, sem muita agitação nas entradas e saídas do parque, pois calmo não estava o meu coração, seguramente. Saí e dirigi-me ao parque exterior, onde a minha moto repousava.
Sentei-me nela, pensativa. Sabia que a minha mente não estava na Terra, andava completamente na Lua, por isso seria um desperdício de tempo ir à aula de Dança.
Liguei à Inês.
- Estou?
- Olá, Loirinha. Hum, onde estás?
- Estou em casa e tu?
- Vou agora sair do Estádio. Já percebi que não precisas de boleia.
- Não, não, hoje não preciso, obrigada.
- Ok...
- Vais à aula de Dança?
Suspirei profundamente.
- Não, hoje... não me sinto digna da aula.
- Estás bem, Mariza? Eu nunca te vi recusar uma aula que fosse...
- Pois não, mas...
- E que tal se eu for à tua casa, assim que vieres?
- Hum se não te importasses, preferia que fosse na tua.
- Oh claro, na boa, mas porquê?
- Não quero que a minha mãe ouça.
- Ah, está bem, então...
Interrompia:
- E que tal assim: eu vou para casa, treino um pouco sozinha e depois vou ter contigo?
- Está perfeito. Então, bons treinos e até já.
- Gracias... besos.
- Beijinhos.
E desliguei o telemóvel, acelerando na minha moto.
Já me encontrava em casa. Fechei a porta do quarto, apertei o cabelo e pus Break It Off de Rihanna a ressoar pelas quatro paredes do meu quarto. Praticava Hip Hop.
A minha mãe bateu à porta e abriu-a, repentinamente.
- O que estás a fazer, Mariza?!
Parei de me movimentar, paralisando.
- Responde, Mariza! Não estavas a praticar Ballet! O que raio é isso?
- Chama-se Hip Hop, mãe.
- Hip Hop?! Isso são danças de loucos! Tens de praticar Ballet! E porque carga de água não foste à aula?
- Não me estava a sentir muito bem...
- O Hip Hop não fará de ti uma bailarina linda e talentosa. Concentra-te, filha!
- Quantas vezes tenho de lhe dizer que NÃO QUERO SER BAILARINA?! – berrei.
- Tu! Tu não sabes as qualidades e potencial que tens! Disperdiçar tudo isso seria um crime! Agora... – respirando mais devagar. – vai calçar as tuas sapatilhas e faz as cinco posições e uma coreografia para eu ver.
Abanei a cabeça.
- Não tenho as minhas sapatilhas.
- Onde as deixaste?
- Na Academia.
- Então, vai buscar as novas. Estão no teu roupeiro numa caixinha.
- Mas... são novas!
- Pois são... E...?
- E vão magoar-me bastante os pés e eu nem sequer estive a treinar Ballet.
- Não quero saber. Se te aleijarem...
- ... vão-me aleijar!
- ... será o teu castigo. Assim, nunca mais voltarás a praticar algo que não seja Ballet ou Contemporâneo. Entendido?
Não lhe respondi. Ela foi buscar as sapatilhas ao meu roupeiro e eu calcei-as.
Sentou-se na minha cama.
- Um. Dois. Três. Um, dois, três e roda.
Obedeci-lhe contra a minha total vontade.
Quando acabei a coreografia principal do Lago dos Cisnes, deixei-me cair de joelhos; os meus pés já não aguentavam mais. Descalcei a merda das sapatilhas de pontas.
A minha mãe levantou-se e disse:
- Esta é a minha menina. Vou fazer o jantar.
- Não tenho fome.
Ela virou-se para mim e fitou-me.
- Isso é outro castigo? Agora da tua parte?
Pisquei várias vezes os olhos sem lhe responder.
- Eu compreendo. – e saiu do quarto.
Agarrei nas sapatilhas e lancei-as com toda a força que me restava contra a porta. (...)
Dei três baques na porta. Inês abriu logo. Mirou-me de alto a baixo, mas os seus olhos paralisaram ao esbugalharem-se, vendo o estado dos meus pés descalços nas frias escadas.
- O QUE É QUE TE ACONTECEU?!
- Posso entrar? – perguntei, rezando para que a minha voz não soasse a “estou quase a esvaziar-me em lágrimas”.
- Claro! – desviando-se para que eu passasse. Dirigi-me ao seu quarto. González saltou para cima do meu colo e eu fiz-lhe umas festinhas na cabecinha.
- Diz-me o que se passa, rapariga!
- Inês. Acho que estou a apaixonar-me!
Ela esbugalhou os olhos azuis.
- A sério? Mas isso é… ÓPTIMO! Por quem?
- Óptimo?
- Não estás contente?!
- Porque haveria de estar? Sou uma desgraça em relações! E não queria mesmo arruinar esta!
- Calma! O problema é que estás sempre pressionada pela tua mãe e o infeliz caso que ela teve com o teu pai… é só isso…
- E ainda dizes “só”…
- Não me disseste o que aconteceu aos teus pés.
- Estreei as novas sapatilhas de Ballet.
- És masoquista, só pode!
- Fui obrigada!
- Por quem?
- Pela minha mãe.
- PORQUÊ?!
- Porque eu estava a praticar Hip Hop.
Inês ficou um pouco baralhada.
- Qual é o mal nisso?
- Para mim e todos os outros? Não. Mas para a minha mãe tem e muito. Ainda anda com a ideia de eu ser uma bailarina profissional.
- A tua mãe devia respeitar as tuas decisões.
- Pois, mas pronto… Então, e como foi o teu dia? Como correu o trabalho de Ciências?
- Hum… correu pouco. – ri-se.
- Que quer isso dizer?
- Quer dizer que...
- Vá lá, Loirinha! Conta tudo! Com pormenores se houverem.
- Pode-se dizer que há pormenores...
- UI! Vá lá, conta antes que me rezes a missa pelo meu enterro de tédio.
- Credo! Bom, digamos que tive um certo episódio com o Rúben Amorim.
- Oh, o locco jugador del Benfica, huh. E o que aconteceu?
Inês levou umas mechas do seu cabelo loiro para trás das orelhas.
- Bem, eu pedi para ir à casa-de-banho...
- ... sempre com a bexiga apertada. – interrompendo-a, brincando com ela.
- ... e quando abri a porta, apanhei um susto do caraças!
Esbugalhei os olhos, somando dois mais dois!
- OH DIOS MÍO! Apanhaste o Rúben na casa-de-banho todo nu ou em boxers super curtos e super justos?!
Inês piscou os olhos várias vezes antes de explodir de frustração.
- Quase que pareces bruxa... vidente! Por acaso não foi em boxers... foi em toalha de banho.
- Oh, ainda melhor. Viste os vapores a saíram do seu corpo?
A minha amiga mordeu o lábio, completamente corada.
- Por acaso...
- Ah, eu sabia. – rindo-me da sua expressão facial.
Ela revirou os olhos.
- Agora a sério, Inês. Tu gostas dele?
- Eu?! Gostar dele?! Oh, não sejas tonta.
- Estou apenas a interpretar as tuas expressões quando falas nele.
Inês ficou pensativa, mas demos por encerrada aquela conversa, pois via que ela não estava disposta a admitir.
Passámos a noite toda a ouvir música; não me apetecia ir para casa...
Inês convenceu-me a dormir na casa dela, no seu quarto de hóspedes.
Vesti um pijaminha fofo dela e enfiei-me na cama. Quando Inês passou pela casa-de-banho deu um gritinho pelo qual eu faria chichi se tivesse vontade.
- Credo, chica! Me quieres matar del corazón?!
- Só agora me lembrei que não respondeste à minha pergunta!
- Qual delas?
- Por quem estás apaixonada?
- Tecnicamente, eu penso que estou apaixonada, o que é bem diferente de estar de facto.
- Não desvies a conversa, Espanholita!
Revirei os olhos. Suspirei, rendendo-me.
- Do Javi, pronto. Já disse! Satisfeita?
- Do Javi? Javi, quem? Não conheço.
Levantei a minha sobrancelha fatal.
- O Espanhol dos olhos lindos.
- OMG! Ele disse-te o nome dele?
- Eu precisei. – ao ver a cara de Inês, esclareci-a, de imediato – Precisei porque ele tinha entrado no parque de estacionamento e o meu trabalho era registar as estradas e saídas, por isso...
- Hum... bom, não vou insistir mais, estou cheia de sono e tu também deves estar.
Nem por isso... aliás, o meu cérebro não pára de funcionar... pensar em coisas que nem devia...
- Boa noite, Espanholita. Dorme bem. Adoro-te!
- Buenas noches, Loirinha. Obrigada e igualmente. Eu também.
E embrulhei-me nos lençóis, fechando os olhos para que ela pensasse que eu estava mesmo cansada. Inês voltou para o seu quarto.
Dava voltas e voltas na cama, sem me conseguir adormecer.
Subitamente, ouço o telemóvel de Inês a vibrar ao som de Bleeding Love não da versão da Leona Lewis, mas sim na versão de Jesse McCrtney.
Inês atendeu, meia ensonada, mas depressa arrebitou. Aposto que era o Fernando Torres.
- Hum, não faz mal. Não, não estava a dormir. Então como estás?
- Eu estou bem. A Faculdade? Não muito dura como pensava...
- Não tenho feito nada de especial e tu?
- Perdão? Eu... eu não sei bem ao certo.
- Sim, sim eu vi o teu sms.
- Não sei, porque... hum... não estava muito bem... para te responder...
- Desculpa... eu devia ter ao menos respondido.
- A sério?! – perguntou Inês, quase a gritar.
- Já este fim-de-semana?
OMG! O Fernando vem a Portugal?!
- Está óptimo, sim, sim! Eu depois envio-te um sms a indicar a morada.
- Sim... eu também tenho imensas saudades tuas.
- Okay... beijos. Amo-te muito! – e desligou.
Inês deitou-se na cama com um mega suspiro apaixonado.
Ai, fiquei confusa! Ela tinha um fraquinho por Rúben, não tinha? Ou tudo isto está acontecer por ela estar apenas vulnerável com a situação: niño Fernando ausente? Ao pensar nisso uns minutos, adormeci. (...)
Acordei às 6h30; deitei-me no chão a fazer abdominais e flexões.
Fui ao quarto da Inês; ela dormia profundamente, com a boca um pouco aberta. O González também respirava calma e profundamente.
Dorminhocos. Pus-lhe um bilhetinho na mesa de cabeceira.
“ Quando leres isto, provavelmente já estou vestida e em cima da moto à tua espera, por isso DESPACHA-TE! Ah, e obrigada por tudo ontem à noite “.
Desci as escadas e abri a porta. Fui directa ao meu guarda-roupa.
Escolhi um top branco e um casaco azul-escuro com rendinhas, umas jeans claras com alguns buracos, uns sapatos de cunha e uns colares pretos e brancos. Não sei como me aguentava em cima de uns tamanhorros saltos, mas ainda não me estava a queixar. Fiz uma sandes, vesti o casaco de cabedal para guiar a moto e saí de casa. Olhei para o relógio. 7h30.
Sentei-me na moto e comecei a comer a sandes. Estava a dar as últimas dentadas, quando Inês desceu as escadas do prédio.
- Estou aqui, estou aqui!
Montou na moto, agarrando-se á minha cintura, após por o capacete.
Chegámos à Faculdade num instantinho. Depositámos os livros nos nossos cacifos e fomos ambas para as aulas. Tentava evitar Rodrigo, escapulindo-me mal avistasse alguns cabelos loiros curtos.
Encontrei Inês à hora de almoço e aproveitámos para almoçar juntas.
Mauro veio juntar-se a nós, também. E (um grande “infelizmente) Rodrigo avistou-nos na mesa e sentou-se ao pé de nós.
- Acho que devíamos falar. – murmurou ele, pertíssimo de mim.
- Hum, está bem. Queres falar do quê? Como está o tempo hoje? Que livro é que eu ando a ler? Se o jantar te soube bem ontem à noite? Força, escolhe o tema. Estou ansiosa por discuti-lo.
- Sabes que não é disso que temos de falar.
- Então é do quê?
- Queres que fale sobre isso à frente desta gente?
- Esta gente são boas pessoas! Melhores do que tu!
- Oh, vá lá! Tu sabes que eles não são iguais a nós.
- Cómo?! Do que falas tu?
- Tu anseias por mim, porque eu sou o único que te posso dar o que querer.
- E o que é que quero?
- Liberdade. Gostas do facto de seres livre, sem compromissos... e eu – riu.-se. – Sou o mestre dos “sem compromissos”.
Levantei-me, furiosa, arrastando um pouco de comida do tabuleiro para o chão.
- ÉS UM PORCO! – e dei-lhe um estabefe na cara. – Afasta-te de mim!
Agarrei na minha mala e saí do refeitório. Inês correu atrás de mim.
- O que foi que se passou ali?!
- Nada, deixa, esquece, não importa.
- Importa sim!
- Eu... eu tenho de ir trabalhar.
- Mas, não comeste nada.
- Perdi o apetite. Queres boleia?
- Hum, não sei, depois logo te digo.
- Está bem. Bom resto de aulas.
E saí a correr.
- Bom... trabalho... – ouvi a sua voz a desvanecer-se atrás de mim.
Entrei de serviço; Outra vez no Parque de Estacionamento.
Passadas duas horas após a minha entrada no Parque, entrou um BMW preto.
Levantei-me da cadeira que rangia por todos os lados. Levei a caneta ao bloco de notas para anotar a matrícula e depois o nome do... condutor...
Ainda antes dele se virar para mim e se encaminhar para a porta de acesso, escrevi no bloquinho: Javi García, seguido da matrícula do carro.
Mordi os lábios a fim de parar com aquele sorriso parvo que estava a tomar posse da minha cara. Sorriso esse que se desvaneceu e deu lugar a uma expressão horrorizada, quando os meus ouvidos sofreram com o barulho irritante de quatro pneus da Audi ao andar a velocidades impróprias.
- O QUE É QUE SE PASSA AQUI?! – berrei.
Mirei de alto a baixo a linda rapariga que saiu do Audi branco e começou a barafustar com Javi.
- AHORA NO HABLAS?! – gritava com todas as suas forças a rapariga de cabelo pretos liso.
- Elena! Voy a trabajar! Y aqui no es el lugar para hablar.
- NO, NO. ES AQUÍ Y AHORA! – exclamava vermelha de raiva.
- Desculpe, mas tem de sair das instalações. – disse eu calmamente.
- CÁLLATE! Usted no tiene nada que ver com eso! TUERTA! – exclamou ela, pensando que eu não sabia o que “tuerta” queria dizer. Mas estava redondamente enganada.
Abri os meus olhos verdes, furiosa.
- Mira, mi niña! Yo trabajo aqui y lo que tengo responsabilidades aqui! – ela ficou surpreendida por ouvir as minhas palavras numa perfeita pronúncia Espanhola. Por instantes, passou-lhe pela cabeça se tinha aprendido a falar a sua língua, mas depois detectou um particular toque de Barcelona (a minha terra Natal). E eu já tinha percebido que ela do Sul. – Yo no te he insultado, solo dijo que tenía que salir. – e apontei para o carro dela, a fim de ela se ir embora.
Depois de deitar um longo olhar a Javi (que lhe virou as costas), dirigiu-se ao carro, abrindo a porta. Virei-me para Javi que estava bastante cabisbaixo. Murmurei o seu nome, facto que não escapou aos ouvidos de Elena.
- Te gusta de él?! Javi, ella es culpable?
- Qué quieres decir? – inquiri.
- Me hás dejado… para poder estar com ella? – perguntava ela, nas costas de Javi.
- QUÉ?! – berrei. – De qué estás hablando?
Elena fitou-me com os seus olhos castanhos-escuros a faiscarem.
- Pergúntele! – disse e entrou no carro, saindo do parque num ápice.
Quando me virei de volta, Javi já não estava lá. Saí do Parque e fui ter com o Sr. Vilaça.
- Sr. Vilaça, Sr. Vilaça!!!
- Calma, rapariga! Olha o teu coração.
- Deixe lá que ele já estava pior… preciso de um favor, Sr. Vilaça.
- Diz lá, se eu o poder fazer.
- Falta uma e hora e meia para eu me ir embora, mas posso sair mais cedo? POR FAVOR, POR FAVOR, POR FAVOR! – supliquei-lhe. (…)
Passados dez minutos já me encontrava sentadinha nas Bancadas do Estádio.
Senti o bom cheirinho a relva molhada. O Sr. Vilaça foi um querido para mim; deixou-me sair mais cedo para eu poder vir ver os treinos dos jogadores. Tinha mesmo de falar com Javi. Sabia que ele precisava de desabafar com alguém. Mas… só depois me pus a pensar. E porque raio haveria ele de querer desabafar comigo? Afinal, sou uma estranha, na qual ele embate várias vezes. Porque haveria ele de querer falar comigo? Hum, bem, eu fui a única pessoa que assistiu a toda aquela cena. E Elena tinha feito umas sérias acusações que eu gostaria que me fossem explicadas devidamente.
Os treinos já tinham começado à uma hora atrás… Javi tinha chegado atrasado.
Ele estava mesmo na Lua… mal corria atrás da bola, não percebia as boas jogadas que os colegas dele faziam…
Lembrei-me logo da Loirinha, mal vi que o Rúben Amorim foi o primeiro a sair dos treinos; deve estar desejoso de voltar para casa… pois sabe onde Inês está.
Javi foi o último a sair e eu corri pelas Bancadas abaixo e antes dele entrar no túnel disse-lhe.
- Acho que devias falar com alguém.
- De acuerdo… está usted listo para escuchar un español mareado?
Sorri-lhe com os olhos a brilharem.
- Estou mais do que pronta para ouvir um amigo que tenha de desabafar.
Ele também me sorriu e disse-me para esperar no parque exterior.
Assim o fiz. Sentei-me na minha moto à espera de ver o seu BMW preto.
Esperei quinze minutos por ele. Os meus olhos avistaram-no, finalmente. Vinha a pé.
Trajava umas jeans claras e uma t-shirt azul escura. Usava ainda um colar com duas chapinhas e uns óculos de sol. Fiquei triste por ele não me conceber o privilégio de mirar os seus olhos lindos, mas pronto. Ele convidou-me para lancharmos no Colombo.
Seguimos ao lado um do outro, juntinhos. O seu perfume desnorteava-me um pouco os pensamentos, mas eu tentei mantê-los bem definidos. Quando chegámos à pastelaria, ele tirou os óculos, passou a língua rosada pelos lábios, coçou o bigode (fiquei a pensar que era um dos seus tiques) e disse-me:
- Pérdoname. Usted do debería tener oído.
- Não faz mal…
- No, no. No deberías. Amigos no debería llevar a los estados de ánimo de las novias de sus amigos.
- Deixa lá… mas, porque raio estava ela a discutir daquela maneira?
- Por qué… ella no tení ninguna rázon para estar enojada… yo sí, tengo motivos para estar deceptionado.
- Então? Porque estás desiludido?
- Cuando le dije, a Elena, que vine a Lisboa, ella se puso furiosa. Dijo que era el mayor error de mi vida.
- Porquê?
- De hecho, ella no quería venir conmigo a Lisboa. Creo que se sintió obligada a venir. Y yo no queria que ella saliera de la obligación. Pensé que me han apoyado. Yo estaba equivocado.
- Eu compreendo a tua situação: se ela quisesse vir, era bem-vinda, mas jamais quererias que ela viesse contigo para Lisboa, contra a sua própria vontade.
Javi suspirou.
- Exactamente.
Mordi o lábio.
- Tenho pena do que tenha acontecido, mas vais ver que daqui a uns tempos vão-se perdoar um ao outro. Dá-lhe um pouco de tempo… ela vai perceber que não tomou a decisão certa.
Javi abanou a cabeça, entristecido.
- No, no va hacer eso. Ella está muy centrada en sus ideas. Y, para ser honesto, nuestra relácion no andaba muy bien.
- Não?
- No…
Detestava ver-lhe o semblante triste e aborrecido.
- Mas se calhar estás a desistir cedo demais…!
- Cómo?
- Sim, parece que a estás a deixá-la ir com muita facilidade.
Javi fitou-me profundamente.
- Tal vez estoy muy cansado de luchar por algo que no vale la pena. Tal vez solo quiero disfrutar el presente y olvidar el pasado.
- Qual será o porquê? É o passado que é mau ou é o presente que é muito bom?
Javi esboçou um sorriso que me fez ficar com calor.
- Es la segunda opción.
Sorri-lhe. Olhei para o relógio, só por olhar e foi preciso uma segunda olhadela para ver que horas eram. Estava atrasadíssima para a aula de dança.
- Oh, nem dei pelo tempo a passar! – levantei-me e pus a mala ao ombro – Tenho de ir andando.
- Por qué?
- Tenho aulas de Dança e até já estou um pouco atrasada.
- Bailas?
- Sim, Ballet, Contemporâneo e um pouco de Hip Hop.
- Estoy impresionado.
Ri-me.
- Bom, mas desculpa lá. Tenho mesmo de ir.
- Calma. Te puedo dar un paseo.
- Oh, não preciso obrigada. Vou na minha moto.
- Guías de una motocicleta?
- Sim…
- Estoy impresionado.
- Hum, já tinhas dito isso. – gracejando.
- Entonces… - tirou um cartãozinho da sua carteira e entregou-mo, tocando ligeiramente na pele dos meus dedos. – M número de teléfono móvil.
- Ah, hum, gracias. Eu depois mando-te um sms com o meu número, se quiseres.
- Quiero.
- Está bem… assim sendo, se precisares de alguma coisa, e só dizeres. – afirmei ao afastar-me.
- Mañana, trabajas?
- Sim, sim. – respondi-lhe já longe.
Cheguei à minha moto e enviei-lhe um sms, dizendo que aquele era o meu número.
Recebi um “ gracias por me escuchares “.
Enviei um “ de nada. Besos “.
Arranquei do passeio, sorrindo.

3 comentários:

  1. Ai ai... Meu deus, estou em pulgas para ler o próximo capitulo ^^
    A história está muito boa, mesmo!
    Beijoos.

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  2. OH!! Nino esta chegando :DD

    Ruben.. Ruben vai morrer de ciumess

    XD

    Javi e Mariza = LINDOSS
    espanholitoss

    Continua, QEROOO MAISS!!
    BEIj*o

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  3. Obrigada Ana*

    Juu pacheco - Muito obrigada :D

    biaC - Adorámos o teu comment, e já estamos a tratar do próximo capitulo, muito obrigada :D

    Beijinhos para todas*

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