segunda-feira, 12 de setembro de 2011

13ºCapítulo - narrado por Mariza Martínez

Tinha acabado de chegar das compras. A minha mãe tinha ido trabalhar para a loja e eu estava sozinha em casa. Não sabia o que Inês estaria a fazer ou até mesmo se estava em casa. Vesti a camisola cheia de padrões coloridos, umas calças largas, atei o cabelo e pus um boné. Esta era a roupa mais desportiva que tinha comprado. Já sabia que Ricky não vinha comingo à Battle de Hip Hop, portanto só podia contar comigo mesma. Veio mesmo a calhar a ausência do professor de História que estava doente e tinha ficado em casa. Fui à internet, mais precisamente ao Google Maps para ver o caminho que tinha de percorrer até à Amadora. Fixei-o muito bem na mente. Pus o telemóvel no bolso das calças. Saí de casa. Liguei a moto e tentei concentrar-me na condução e não na camada de nervos que assombravam a minha barriga.
(15 minutos depois...)
A mãe de Mariza entrou em casa à procura da folha onde tinha apontado as encomendas que eram preciso ser feitas esta semana na mercearia. Não a estava a conseguir encontrar e já estava a ficar preocupada. Tocam à campainha; pensou ser a sua filha.
Abriu-a. Era a Inês, a melhor amiga de Mariza.
- Boa tarde, Sra. Martínez! A Mariza está? – esboçando um leve sorriso.
- Oh, olá Inês. Não, até pensava que era ela, mas ainda deve estar na Universidade.
- Hum... um colega dela disse-me que hoje não tiveram História e é o dia de folga dela no estágio...
- A sério?! Estranho...
- Pois... hum, olhe eu vinha aqui entregar-lhe o batom que ela me imprestou...
- Entra Inês e leva-o ao quarto dela, por favor. Estou tão atrapanhada! Tenho de encontrar uma coisa e não a encontro! – exclamava à procura da folha na sala de estar.
- Com licença – pediu Inês. Dirigiu-se ao quarto de Mariza e deixou o batom em cima da sua secretária. Quase escorregou num papel que estava caído no chão. O seu aspecto colorido e apelativo chamou à atenção dos olhos de Inês. Pegou no papel e leu o conteúdo. – Uma Battle de Hip Hop? Na Amadora? – quase soltou um gritinho, mas a sua mão na boca, deteve-a. Dobrou o papel e enfiou-o no bolso detrás das suas jeans.
Despediu-se da Sra. Martínez e subiu as escadas até à sua casa. Abriu o papel e deu voltas e voltas no seu quarto. Até o pequeno González estava a começar a ficar nervoso.
- Será que ela não tem juízo nenhum, González?! O que devo fazer? AH! Se calhar é apenas um ensaio da Academia. Vou ligar-lhe. – ligou. Chamou, chamou, mas não atendeu. – Vou antes ligar ao Ricky. Se é um ensaio, o par dela deve estar com ela, certo? – continuando a falar para o seu gatinho felpudo.
- Estou? – respondeu Ricky.
- Ricky! Olá tudo bem?
- Comigo está tudo óptimo.. tu é que pareces não estar assim tão bem. Passa-se alguma coisa?
- Não sei, diz-me tu! A Mariza está contigo? Estão num ensaio?
- Não e não, porquê?
Inês mordeu o lábio.
- É que... eu acho que ela foi a uma Battle... perigosa...
- O QUÊ?! ELA FOI?
- Já sabias?!
- Sim ela tem-me falado nisso. Só que pensava que ela tinha desistido da ideia, por isso não fui com ela...
- Achas que ela ía desistir?! Quando mete uma coisa naquela cabeça não pára até a realizar. Então, isso significa que ela foi sozinha? Para a Amadora? Onde habitam gente perigosa?!
- Exactamente... – disse Ricky todo preocupado.
- E agora? Que raio faço?
- Calma! Eu vou apanhar um táxi e vou-te buscar para irmos lá os dois, boa?
- Boa! Então, até já. Quando estiveres perto, dá-me um toque.
- Okay, até já. Beijos.
Inês desligou o telemóvel com as mãos a tremerem um pouco.
- González! Eu sinto que algo vai correr mal! Eu tenho... tenho de... hum! – Inês pressionou as teclas do telemóvel com força e marcou um número que de certeza a ía ajudar. Quando ouviu uma voz do outro lado, disse:
- Javi? É a Inês. Tens de me ajudar! Sinto que a Mariza está em perigo! – exclamou.
(15 minutos antes...)
Estacionei a minha moto ainda um pouco longe do sítio indicado no folheto. Caso, ouvesse algum problema, queria-me certificar que a minha moto não pagava caro os irritanços do pessoal. Tirei o capacete, pus o boné e caminhei. Quando cheguei ao local estipulado, esbugalhei os olhos. Onde raio me tinha metido?!
Diante dos meus olhos estavam imensos grupos de pessoas de cor com ar de quem metia muito respeito. Os grupos de dança começavam a fazer os aquecimentos e os que estavam apenas a observar como eu, começavam a cantar uns cânticos estranhos.
Tentei não parecer assustada, o que era dificil. Os grupos começaram a dançar como se estivessem num forte duelo entre guerreiros com duas espadas nas mãos.
Engoli em seco, quando vi os primeiros socos e pontapés entre os dois primeiros grupos. Olhei para trás e vi ainda mais pessoas, estimulando os cânticos e enfurecendo ainda mais os grupos de dança. Não havia escapatória...
Javi García tinha recebido as devidas indicações de Inês sobre a localização de Mariza.
O seu BMW era conduzido a 120 km. Tinha de a ajudar. Tinha de a tirar dali. Segundo, Inês, uma Battle de Hip Hop nunca acabava bem e se acabasse bem, esse facto equivalia a mais ou menos cinco pessoas esfaquiadas. E se Mariza fizesse parte dessa estatística?! Ou pior... e se Mariza não saíria com vida daquela estúpida Battle?! Javi abanou a cabeça com esperança de todos aqueles pensamentos mórbidos se evaporassem da sua cabeça.
- Calma! No puedo pensar negativamente. En primei lugar, tengo que llegar hasta allí.
E assim, pressionou com mais força o pé no acelerador.
Depois dos mais picantes grupos dançarem e agredirem-se uns aos outros, porque se sentiram injustiçados com o vencedor, só conseguia ouvir gritos, ver pessoas a afastarem-se e a correrem. Pareciam uma manada de zebras a fugirem de uma chita esfomeada. Muitas das pessoas atrás de mim fugiram para um descanpado ali perto, como eu fiz. Nem tentei manter diálogo com os que estavam perto de mim; só queria pensar numa maneira de sair dali.
Javi já tinha estacionado o carro ao lado da moto preta e brilhante de Mariza. O seu coração bateu com mais vigor ao pensar que estava perto dela.
Olhei à volta e pareceu que os ânimos já estava mais calmos. Tudo aquilo parecia ter saído de um filme de terror, como se fosse uma dura batalha entre dois povos; uns a tentarem libertar-se da dependência que tinham pelos outros e os restantes e tentarem manter o seu poderio e suberania pelos mais fracos. Assim sendo, levantei-me, rijida.
E comecei a caminhar até onde outrora se tinham concentrado centenas de pessoas.
(2 minutos depois...)
Javi subia agora uma pequena colina, onde daria lugar a um descampado (o lugar indicado no folheto da Battle). Já estava perto. Muito perto.
O seu coração abrandou, quando viu uma pessoa a correr, parecendo sem rumo, com uns longos caracóis negros a balançarem de um lado para o outro. Não conseguia ver bem, pois o céu estava escuro e ameaçava começar a chover.
(2 minutos antes...)
Corri pelo descampado; devia parecer uma tonta patética, mas não me interessou. Só queria zarpar dali o quanto antes. A minha visão estava pouco nítida, mas pareceu-me avistar um rapaz alto e muito bem parecido, vir na minha direcção. O rapaz aproximava-se mais e mais de mim. Enrroguei a testa, quando vi o Javi.
- Javi? – murmurei.
Continuei a olhar para ele, maravilhada com o efeito que a chuva deixava no seu cabelo.
Subitamente, ouvi um forte disparo e depois, senti algo perfurar o meu abdómen. Engoli em seco e fechei os olhos para conseguir suportar melhor a dor. Vi que Javi tinha entreaberto a sua boca tentadora e que o rubor que sempre encontrava nas suas bochechas tinha desaparecido.
Ele olhava agora para a minha barriga. Com curiosidade, olhei também. A minha respiração foi cortada ao ver a minha camisola ensopada de sangue na zona onde sentia dores fortes. Lentamente, levei a minha mão àquela zona. Virei a palma da mão para mim e vi o meu próprio sangue num vermelho muito vivo. Comecei a sentir tonturas; não gostava nada de ver sangue.
Ouvi Javi gritar o meu nome e correr até mim. Via a mínima distância que nos separava, mas nos meus ouvidos, essa distância pareciam km. Javi apanhou-me ainda antes de atingir o chão molhado. Levantei a mão direita e fiz festinhas no seu rosto. Vi uma gota de água escorregar pelo seu rosto, fiquei na dúvida se era uma gotinha de chuva ou uma lágrima. Se fosse uma lágrima... porque razão estava ele a chorar? Nunca me tinha sentido tão feliz, tão protegida pelos seus braços, tão acarinhada. Não sei porquê, mas os meus olhos queriam-se fechar, mas eu lutava contra eles e tentava perceber o que o meu anjo, o meu herói me dizia.
- No te preocupes, voy a llamar a una ambulancia. Vas a estar bien.
- Tenho sono... Javi...
- No tienes nada... Recuerdas la noche anterior? Estabas hermosa. – dizia Javi, afagando-me o cabelo, o rosto, as mãos.
- Nós... dançámos... não foi?
- Sí, sí! Te recuerdas! – sorrindo. Tentei sorrir também.
- Javi? Eu... tenho mesmo sono... Ficas aqui? Até eu acordar?
- Claro, siempre! Pero no duermas. No tienes suenõ...
- Tenho, Javi! – falei mais alto. Ouvi uma sirene irritante que também não me deixava dormir. Alguém me punha algo em cima da zona da barriga que me ardia. Tinha a boca seca. Cheirava a terra molhada. Alguém me pôs numa maca e Javi largou-me a mão.
Fiquei chateada. Chamei por ele. Sentia a voz rouca. Ele finalmente, chegou-se perto de mim. Entrei na ambulância e ele sentou-se perto de mim. Sorri-lhe e murmurei:
- Amo-te...
- Yo también te amo... – e depositou-me um beijo na bochecha molhada.
Comecei a sentir os olhos a reviram-se, quando já estávamos em movimento.
Não consegui lutar mais contra as minhas próprias palpebras e fechei os olhos.
(42 horas depois...)
- Mariza? Mariza, estás acordada? Estás a mexer as mãos! – exclamava Inês ao meu lado. Abri os olhos a custo. Voltei a fechá-los, de repente, devido à forte claridade do quarto. Pestanejei várias vezes e respirei uma forte golfada de ar. Olhei à minha volta.
Inês agarrou-me na mão esquerda; estava tão quente... ou então era eu que estava gelada. – Como te sentes, Espanholita?
- Estranha. Parece que dormi uma eternidade. – tentei sentar-me, mas começou-me a doer o abdómen. – AU! Mierda!
- Tem calma! Não podes fazer movimentos bruscos.
- Não fiz nenhum movimento brusco, apenas me queria sentar.
- Mas estás bem assim; descansa.
Suspirei e afundei-me na cama.
- Estou no hospital, certo?
- Óbivo! Perdeste muito sangue.
- Perdi? – fazendo uma careta.
- Não te lembras? – abanei a cabeça. – Não te lembras de nada do que aconteceu?!
Mordi o lábio gretado.
- Eu estava na Battle...
- Sim...?
- Ouvi gritos e pessoas a correr de um lado para o outro. Escondi-me... mas, depois queria fugir. E vi alguém... O JAVI ESTAVA LÁ! E... comecei a sentir dores e... não me lembro de mais nada.
Inês tinha prestado muita atenção aos meus relatos, mas estava surpreendida.
- As dores que sentiste, Mariza, foram causadas por uma bala! Levaste um tiro!
- A sério? – abri muito os olhos. – Meu Deus...
- Pois! Qual foi a tua ideia de ires àquela porcaria sozinha?! Hum?! Estavas bêbeda?! Se não fosse o Javi, podias estar morta por esta altura!
- Se não fosse o Javi...?
- Sim, foi ele que te encontrou e chamou uma ambulância a tempo.
- Uau! Foi outra vez o meu herói... mas, como sabia que eu estava na Amadora?
- Fui eu que lhe liguei! Estava em pânico, Espanholita! Fui a tua casa, tu não estavas, a tua mãe não sabia de ti. Liguei-te, não me respondeste! Liguei ao Ricky e foi ele que me disse que estavas sozinha na Amadora! Tive de ligar ao Javi! – disparou Inês.
- Acho que fizeste bem. – sorrindo-lhe. Comecei outra vez a sentir sono.
- Estás cansada?
- Um pouco...
- São os comprimidos que te fazem sono. Vou chamar uma enfermeira, está na hora de mais uma dose.
- E não! Não, Loirinha! – implorava eu. Estava farta de dormir.
- Tu está-me calada! Sempre que penso na loucura que cometeste, só me apetece é chegar-te ao pêlo! – afirmou Inês, furiosa.
- Pronto, pronto. Vai lá chamar a criatura que passou horas a drogar-me.
Inês saiu do quarto. Passado um bocado, veio uma enfermeira.
- Bom dia, sente-se melhor?
- Sentir-me-ia melhor se falássemos na minha alta.
- Ainda vai ter de esperar... – ela observou a catrefada de máquinas que se distribuiam à minha volta. Olhei para o lado direito. Vi um colchão no chão.
- Porque é que há um colchão no chão?
- Oh, foi o seu namorado que pediu.
- O meu... namorado? – fiquei parva ao ouvir aquilo.
- Sim. À noite, ele chegava muito cansado do trabalho e acabava por adormecer. Então, nós optamos por trazer um colchão para ele dormir melhor. O seu namorado é muito querido. Tem muita sorte.
- Hum, pois, obrigada...
- Estou a cansá-la... vou-a medicar. Daqui a poucos segundos vai estar outra vez a domir.
- Oh, não me diga.
- Mas não se preocupe. Vai acordar antes da hora das visitas ter terminado.
- Hum... – já me sentia drogada. Adormeci.
Acordei da parte da tarde e a mesma enfermeira de manhã, entrou no quarto.
- Recebeu uma visita. Posso mandá-la entrar?
Esbocei um sorriso. Devia ser o Javi.
- Claro! – assim, a enfermeira saiu e a minha visita entrou. Esbugalhei os olhos.
- O QUE ESTÁS AQUI A FAZER? VIESTE MAGOAR-ME? MATAR-ME?
- Cállate! Ellos pueden pensar que han venido a prejudicar.
- E não vieste para isso?
- Claro que no. Vino a ver cómo estabas...
- Estou bem, obrigada.
- Usted no parece estar bien.
- Isso é porque estou a ser medicada.
- Hum... bueno, en realidad he venido aquí para decirte algo.
- Logo vi que não tinhas vindo para ver se eu estava bem...
- Sé que eres joven, pero de todos modos, tienes que saber lo que está pasando.
- E o que é que se está a passar?
- Estoy embarazada.
Pestanejei os olhos.
- Estoy embarazada de Javi.
- O quê?!
- Sí... él no fue capaz de decirte... por lo tanto y como soy mujer, pensé que era mejor decirte.
- Eu... eu não acredito numa única palavra que disseste!
- Esto ya no me preocupa.
Respirei pela boca com dificuldade.
- Não acredito... não acredito.
Elena destapou a barriga e vi com os meus próprios olhos a verdade. Depois, ajeitou o cabelo, meteu a mala ao ombro e disse:
- Me voy. Las mejoras. Adiós. – e foi-se embora.
Como é que isto me podia estar a acontecer? OH, MEU DEUS! Isto de certeza é uma praga! Uma maldição! Merda para esta vida! Merda para a minha pouca sorte! Merda para a Elena! Merda para o Javi! Merda para todos! – gritava para mim própria, sufocando com o meu próprio ar e lágrimas. Oh, lágrimas! Porque raio eu chorava?!
Chorar por amor? Que tontice! Mas, não conseguia parar... Mais valia chorar tudo o que tinha para chorar, agora! Tudo de uma vez! (...)
A noite tinha chegado e com ela, as últimas visitas que podia receber.
A minha mãe, a Inês e o Ricky estiveram lá, mas quando a enfermeira me disse que o meu namorado queria entrar, tudo o que queria era berar-lhe e dizer-lhe que não o queria ver. Depois, pensei melhor e disse à enfermeira que eu estava muito cansada e só me apetecia dormir. Disse-lhe também, para lhe agradecer toda a ajuda que ele me deu e um pedido de desculpas.
No dia seguinte, recebi o doutor. Ele examinou-me e fui fazer uns exames.
Hoje já podia sair, desde que prometesse que nunca me esqueceria da medicação para ajudar a cicatrização da ferida que se estendia da costela esquerda até ao umbigo, devido à funda operação. Também, não podia fazer grandes esforços físicos e podia esquecer entrar na Academia durante 3 semanas. A minha mãe chegou e fomos de táxi para casa. Durante o caminho, pensei no Javi. Como é que ele tinha a lata de não me conseguir dizer que tinha engravidado a sua ex-namorada?! Tinha de o esquecer! O quanto antes! Ele não era benéfico para mim. E agora, tinha uma grande responsabilidade em mãos: ser pai. E eu era apenas uma adolescente de 18 anos que tinha de estudar, arranjar um emprego estável e viver a vida da melhor maneira possível e ter um amor proíbido com um jogador de futebol não era a melhor maneira de se viver.

2 comentários:

  1. ai estava de mais :D
    amei mesmo
    a ex dele esta gravida :O
    quero mais :P

    beijinhos

    http://umanovadefinicaodeamor.blogspot.com/

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  2. adorei :D
    cheio de acção este capitulo.
    tenho a sensação que o javi não sabe disso de a Elena estar grávida. espero que a Mariza fale com ele.
    fico à espera do próximo.
    beijo.

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