quarta-feira, 6 de julho de 2011

4º CAPÍTULO - narrado por Inês Oliveira

Eu continuava deitada na cama da Mariza sem tirar por um único segundo os meus olhos do telemóvel, não conseguia parar de ler a sms do Fernando. Eu já a devia ter lido umas 300 vezes, mas ficava sempre sem saber o que responder ou sequer se o devia fazer.
- Loirinha… Loirinha… - Chamava-me a Mariza.
-Desculpa, que estavas a dizer?
-Tou com uma sensação de que esta tarde ficas-te com alguma coisa para me dizer? Porque não paras de olhar para o telemóvel? E não digas que não é por nada, porque eu conheço-te.
-Sim, é verdade, não vou mentir. É que… - Os meus olhos encheram-se de lágrimas naquele momento e a Mariza abraçou-me.
- Ohh Loirinha, então?
- Eu não consigo viver assim, gosto tanto dele Espanholita.
- Tem calma. Que aconteceu? Foi o Torres?
Limpei as lágrimas e sentei-me na cama.
- Euu…ho…je…recebi..uma…mensagem…do…Fernando. – Dizia eu a soluçar, enquanto tentava controlar o choro.
- E que dizia?
Dei-lhe o telemóvel.
- Que querido. E tu a pensares que ele já se tinha esquecido de ti. Mas porque estás assim tontinha?
- Pois, mas eu tenho tantas saudades dele. E essa mensagem fez-me lembrar as nossas férias, os nossos momentos.
Mariza voltava a abraçar-me mais uma vez, mas este abraço é interrompido, quando a mãe dela nos chama para jantar.
Jantámos, eu já estava bem mais calma. Peguei nas minhas coisas e ia de saída para a minha casa.
- Ficas bem Inês?
- Fico. Obrigada Mariza.
- De certeza? Se quiseres ficar cá a dormir…
- Não, a sério, não é preciso obrigada. Até amanhã. Obrigada pelo jantar.
Já em casa. Deitada em cima da cama, ia lendo vezes e vezes sem conta, e comentando com o pequeno González qual a melhor decisão a tomar, qual a coisa certa a fazer?! Estava tão cansada que acabei por adormecer.
No andar de baixo, a história era diferente. A Mariza continuava acordada, e tão cedo não iria adormecer, pois não conseguia parar de pensar naqueles olhos castanhos chocolate e naquele sotaque Espanhol.
Já eram 8:20h estávamos a percorrer os corredores da escola, eu devia estar com umas olheiras enormes e a Mariza não tirava aquele sorriso “parvo” da cara. Íamos em direcção aos cacifos quando ouço alguém a chamar-me:
- Inês, Inês…
(virei-me) - Olá Mauro.
- Olá então como estás? Não pareces muito melhor, e isso assim não pode ser.
- Nota-se muito? Desculpa aquela cena de ontem, não tinhas nada a ver com isto e tiveste que levar comigo, desculpa a sério.
- Desculpa porquê? Não tens de pedir desculpa, e quando precisares, epá, aqui tou eu! Eu é que peço desculpa pelo meu irmão. Ele é sempre a mesma coisa.
- Ahah, Obrigada. (Sorri) Também não tens de pedir desculpa, mas fui apanhada de surpresa, confesso.
- O que é que eu vi aí? Um sorriso! Boa! É assim que quero ver sempre. Mas tas a dizer que foste apanhada surpresa, há e eu não, queres ver?
(Ambos rimos.)
- Temos de combinar continuar o trabalho. – Disse o Mauro
- Sim claro. É quando puderes, e onde quiseres.
- Por mim continuamos logo.
- Sim tá óptimo e onde?
- Pode ser outra vez na minha casa, se não te importares.
- Eu não, mas tens a certeza que não há mal?!
- Nenhum, vamos é com certeza apanhar o parvinho do meu irmão e as suas cenas a achar que tem piada, enfim. Então fica combinado?
- Claro, encontramo-nos ao portão no final das aulas?
- Sim, vá até logo. Quero continuar a ver-te com esse sorriso.
- Vou tentar, prometo.
(demos dois beijinhos e foi cada um para a sua sala)
Passou-se o dia na escola, e fui há procura da Mariza, para ver se hoje não se “esquecia” de mim.
- Hey! Mariza, espera. – Dizia eu numa correria enquanto tentava alcançar a Mariza, que mais uma vez ia cheia de pressa.
- Inês, olha tenho mesmo que me despachar que tenho de ir já para o estádio.
- Mas tu não te cansas?
- De quê que estás para aí a falar?
- Dessa tua vida, sempre inquieta.
- Há, não, por acaso nem me faz diferença, uma pessoa acaba por se habituar, mas diz.
- Como é logo? Vou ter contigo outra vez ao estádio para irmos para casa?
- Sim claro. Vá, agora tenho mesmo de ir, beijinhos.
- Até logo, manda comprimentos ao bonitão espanhol. – Disse eu concluindo com uma forte risada.
- Oi, vamos? – Disse Mauro, aproximando-se vindo de trás.
- Ai que susto! Sim vamos.
(Chegámos a casa do Mauro)
- Está alguém em casa? – Gritava ele, no fundo das escadas.
- A sério?! Não podias ter feito isso ontem?!
(Ambos rimos)
Já estávamos há aproximadamente 1hora no quarto do Mauro, de volta de livros, engalfinhados em folhas, e em pesquisas para o trabalho, quando ouvimos a porta da entrada a bater.
- CHEGUEI! – Gritou o Rúben do fundo das escadas.
- Pronto já começou, preparada para o circo? – Disse o Mauro direccionando-se a mim
- Hã? que queres dizer com circo?
- O palhaço chegou!
- Hó não digas isso coitado, ele ontem pareceu-me bem simpático.
- Simpático é, mas não és tu que tens de aturar todos os dias as palhaçadas dele. Mas hoje até que é capaz de te fazer bem, a ver se te animas.
O Rúben bate há porta e entra:
- Mano, tudo bem? Olá Inês, como estás? (dirigindo-se a mim dando-me dois beijinhos)
- Olá, estou, obrigada.
- Bem vou para o meu quarto, estou cansado do treino, se precisarem de mim estou na porta ao lado.
- Vamos continuar o trabalho? Ou queres fazer uma pausa para comer alguma coisa? – Perguntou o Mauro.
- Pausa para comer alguma coisa parece-me bem.
Descemos as escadas e fomos até há cozinha, enquanto o Mauro preparava umas sandes e uns sumos, pedi-lhe para ir há casa-de-banho. Subi as escadas, segui pelo corredor, ia distraída a reparar nas fotos, cachecóis, bandeiras e coisas do género pendurados nas paredes, coloquei a mão na maçaneta, rodeia lentamente para a direita, sem sequer pôr em questão que poderia estar lá alguém, abro-a, nem queria acreditar no que os meus olhos viam. Deparei-me com o Rúben só com uma toalha há volta da cintura, com pequenas gotículas de água a escorrerem-lhe pelo corpo e a largar vapor ainda:
- Ai desculpa, não sabia que estavas aqui, desculpa, desculpa, vou-me já embora.- Dizia eu muito nervosa enquanto tapava os olhos, fechava a porta, só pensava num buraco bem fundo para lá me meter enquanto percorria o corredor em direcção ás escadas.
O Rúben abre a porta, vem a correr atrás de mim, com uma mão a agarrar na toalha e a outra agarrou-me pelo pulso:
- Hey espera, eu já estava de saída, podes ir.
- Desculpa a sério, eu juro que não fiz de propósito, não fazia a mínima ideia de que estavas lá dentro, e … - desculpava-me enquanto mantinha uma mão a tapar os olhos.
- Calma, calma, não tem nada de mal (ria-se) até teve piada a tua cara, mas olha – Agarrou-me na mão que estava a tapar os olhos – A sério não tem mal nenhum, não ias adivinhar que eu lá estava, podemos dizer até que foi uma situação bastante engraçada.
- É, e constrangedora também. – De repente reparei no formato musculado e atlético que era o corpo do Rúben, era como o de Fernando, e naquele momento fiquei pasmada, sem respiração, estática, … Só pensava nele, e na nossa última noite em Espanha. – É melhor ir andando. – Disse enquanto dava meia volta e ia em direcção das escadas.
- Mas não ias há casa-de-banho?
- Perdi a vontade.
Já na cozinha:
- Mauro importas-te que continuemos o trabalho noutro dia?
-Não claro que não, mas está tudo bem? Foi o meu irmão? Não me digas que recebes-te outra …
- Nada disso, é só que tenho mesmo de ir.
- Tens a certeza? É que Inês, estás super pálida. Bebe este copo de água.
- Estou bem, acho. Mas não tenho sede obrigada, vou indo. Depois como qualquer coisa – Falava eu meia atrapalhada sem saber bem o que dizer. – Vou buscar as minhas coisas lá a cima.
- Ok, queres que vá contigo?
- Não é preciso, deixa, fica aí a lanchar.
Subi novamente as escadas, entrei no quarto do Mauro, peguei nas minhas coisas, e já de saída do quarto:
- Então já vais? – Disse-me o Rúben aparecendo nem sei bem de onde.
- Parece que sim.
- Mas não vais por causa do que aconteceu há um bocado pois não?
- Porque dizes isso?
- Hó não sei, ficas-te tão atrapalhada, que pensei … Esquece! Mas se fores embora por causa do que aconteceu não vás, já disse que não tem mal nenhum, são coisas que acontecem.
- Só a mim pelos vistos.-Sussurrei. -Não, tenho mesmo que ir, tenho uma pessoa há minha espera.
- Ahhh já percebi tudo.
- Hã?! Percebes-te o quê? – Fiquei ainda mais confusa e baralhada do que a minha cabeça tola já estava.
- Por isso é que ficas-te super nervosa há um bocado, por causa do teu namorado.
- Namorado? Que namorado? De que é que estás para aí a falar? – Comecei a tremer, balbuciar e a pensar que o Mauro já lhe tinha contado tudo a cerca do Fernando.
- Então, aquele com quem vais ter agora, não disseste que tinhas alguém há tua espera? E por isso fizes-te aquela cena de há um bocado, já podias ter dito, eu compreendo, mas deixa que não conto a ninguém. Fica um segredo só nosso. (Piscou-me o olho.)
- Ahhh, nãoo, percebes-te tudo mal, não é nada disso, vou ter com uma amiga ao estádio porque ela está lá a estagiar, para irmos para casa. – Dizia eu muito mais aliviada.
- Humm, então não tens namorado? – Insistia o Rúben.
- Não! Quer dizer… espera, que tens a ver com isso? – Perguntei-lhe erguendo a sobrancelha esquerda.
- Nada, só curiosidade, mas agora deixei-te nervosa, confessa.
- Olha desculpa, a conversa está óptima, mas tenho mesmo de ir. Adeus.
- Hey, então vais assim?
- Assim como? – Eu já não estava a perceber nadinha.
- Chega aqui sff.
Pensei: Uiiii não podia vir dali nada de bom, mas alguma coisa era só gritar estava lá em baixo o Mauro e eu tinha um monte de livros na mão.
Aproximei-me dele, ele de mim, e deu-me um beijo tocante no rosto. Fiquei a olhar pasmada para ele sem saber o que dizer.
- Agora já podes ir, ou pensavas que ias sem te despedires, vemo-nos amnhã?
- Acho que agora tenho mesmo de ir, adeus.
Desci rapidamente as escadas, sem saber muito bem o que tinha acabado de acontecer.
- Até amanhã Mauro.
- Levas tudo? Espera vou aí abrir a porta.
- Sim, acho que sim. Não te incomodes, deixa-te ficar aí sentado a lanchar, vemo-nos amanhã na escola, Adeus.

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